Introdução ao metabolismo de um carbono

O metabolismo de um carbono engloba os ciclos do folato e da metionina, essenciais para transferência de grupos metila, biossíntese de nucleotídeos e epigenética. A vitamina B9 (folato) fornece grupos metila ativos através de tetra-hidrofolato (THF), enquanto a B6, em sua forma ativa PLP (piridoxal 5′-fosfato), é cofator essencial em enzimas-chave deste sistema.

Vitaminas B9 (Folato): Formas, vias e regulação

Família dos folatos (Franco et al., 2022)

A B9 pode ser ingerida como 5-MTHF (de alimentos) ou ácido fólico (em suplementos). THF é gerado de ácido fólico por DHFR e participa da conversão de serina em glicina e da síntese de nucleotídeos, além de gerar SAM no ciclo da metionina. Enzimas como MTHFR são reguladas alostericamente (p. ex., por SAM) e por modificações pós-traducionais como fosforilações.

As células desenvolveram múltiplas formas de regulação para garantir que concentrações apropriadas de folato são mantidas. Enzimas envolvidas no ciclo do 1-carbono sofrem modificações (fosforilação, acetilação, metilação, ubiquitinação) que afetam a atividade e a eficiência de proteínas, alterando o fluxo metabólico.

A deficiência de folato prejudica a síntese de DNA e a metilação, favorecendo instabilidade genômica . Está ligada a defeitos do tubo neural, doenças cardiovasculares e disfunções neurológicas — suplementação preconizada reduziu defeitos em até 50 %.

  • Câncer de cólon: baixa ingestão associada a maior risco; suplementação de longa duração pode reduzir o risco em ~75 %.

  • Câncer de pulmão: polimorfismo MTHFR C677TT reduz atividade enzimática, aumenta homocisteína — associados a maior risco em certas populações.

Já o excesso de folato pode mascarar deficiência de B12, retardando o diagnóstico. O folato em excesso também pode promover certos tumores.

  • Câncer de ovário: o receptor de folato FRα superexpresso em tumores, sendo alvo de terapias monoclonais como farletuzumab.

  • Outros tumores (próstata, pâncreas, mama): resultados epidemiológicos variados, com riscos dependentes de dose, ingestão, polimorfismos genéticos e fatores como consumo de álcool.

Vitamina B6 (Piridoxina): Funções, formas e implicações

  • Obtida de alimentos como fígado, peixes, grãos, legumes.

  • Convertida pela enzima PDXK em PLP — forma ativa — essencial para mais de 160 reações enzimáticas (metabolismo de aminoácidos, síntese de neurotransmissores, glicogênese, catabolismo lipídico, etc.).

  • Deficiência: raramente isolada; pode ocorrer em desnutrição, alcoolismo, uso de certos medicamentos. Provoca alterações neurológicas, dermatológicas e hematológicas.

    • Maior risco de câncer de cólon, pâncreas, pulmão.

    • Câncer de mama: resultados mistos; alguns estudos mostram efeito protetor da B6 em sinergia com folato.

  • Excesso: associado a neuropatia sensorial e risco elevado de fraturas e osteoporose, podendo agravar deficiência de niacina (pelagra).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/