Você já ouviu falar de arginina, óxido nítrico (NO) ou tetrahidrobiopterina (BH4)? Se não, prepare-se: esses nomes complicados escondem um dos mecanismos mais fascinantes (e essenciais) do nosso corpo — a produção de óxido nítrico, uma molécula fundamental para a circulação sanguínea, imunidade, desempenho físico e até saúde mental.
Esta produção não é igual para todos. Nossa genética influencia profundamente como essas substâncias agem, e isso pode explicar por que algumas pessoas têm hipertensão, enxaqueca ou fadiga — mesmo com uma alimentação saudável.
Como funciona esse sistema?
Arginina é um aminoácido presente em alimentos e suplementos.
Fontes de arginina
Dentro das células, a enzima NOS (óxido nítrico sintase) usa a arginina para produzir óxido nítrico (NO). Mas para essa mágica acontecer de forma correta, a NOS precisa de um "co-piloto" bioquímico: a BH4 (tetrahidrobiopterina).
Quando tudo está funcionando bem, temos vasos sanguíneos dilatados, boa oxigenação, pressão arterial equilibrada, performance física otimizada e imunidade regulada.
O Problema: Quando Falta BH4 ou o Gene Não Colabora
Se faltar BH4 ou houver polimorfismos genéticos (variações no DNA) nos genes que controlam essas enzimas e cofatores, a produção de óxido nítrico é comprometida. Em vez de NO, a NOS passa a produzir radicais livres altamente tóxicos, como o superóxido. Isso gera:
Estresse oxidativo
Inflamação crônica
Danos vasculares
Fadiga e baixa performance
A Genética no Controle: Polimorfismos que Afetam o Sistema
1. NOS3 (eNOS) – É a enzima que produz o NO nos vasos. Polimorfismos mais estudados são:
Glu298Asp (rs1799983)
→ Reduz a atividade da enzima → menos NO
→ Associado a hipertensão e doenças cardíacasT-786C (rs2070744)
→ Reduz a produção do gene
→ Ligado à disfunção endotelial e enxaqueca
2. GCH1 – Produz a BH4
Haplótipo “X”: Um haplótipo é a combinação de genótipos, um conjunto de polimorfismos (variações) na mesma região do DNA). Influenciam este aplótipo os snps rs841, rs10483639, rs3783641
→ Menor produção de BH4 → desacoplamento da NOS
→ Aumenta o risco de inflamação vascular, dor crônica, estresse oxidativo
3. ARG1 / ARG2 – Enzimas que “roubam” a arginina
Alta atividade = menos arginina para a produção de NO
→ Está associada à disfunção vascular e doenças metabólicas
4. SLC7A1 e CAT1 – Transportadores de arginina
Alterações nesses genes afetam a entrada da arginina nas células
→ Resultado: menos NO, mesmo com alimentação rica em proteínas
Sintomas Possíveis de Disfunção no Eixo Arginina–NO–BH4
Pressão alta ou baixa inexplicável
Cansaço excessivo, mesmo com sono adequado
Enxaquecas frequentes
Mãos e pés frios (vasoconstrição)
Baixo desempenho físico
Problemas de memória e concentração
Risco cardiovascular precoce
Personalização é Tudo
A boa notícia é que, com o conhecimento certo, você pode agir a favor do seu DNA.
1. Faça um teste genético
O objetivo é verificar se você tem variantes nos genes NOS3, GCH1, ARG1 ou SLC7A1.
2. Estratégias de suporte (sob orientação profissional)
Com esta informação podemos pensar na estratégia que faz mais sentido para seu caso.
Suplementar arginina isoladamente, sem considerar o estado da sua NOS ou genética, pode piorar o quadro ao aumentar radicais livres em vez de NO. Precisa de ajuda? Marque sua consulta de nutrição de precisão.