O aumento do ácido úrico no sangue, condição conhecida como hiperuricemia, pode estar associado a diversos fatores de risco. Esses fatores podem ser divididos em comportamentais, clínicos, genéticos e medicamentosos. A seguir estão os principais:
Fatores clínicos e fisiológicos
Doenças renais crônicas: redução da capacidade dos rins de eliminar o ácido úrico.
Hipertensão arterial: especialmente quando não controlada.
Diabetes tipo 2 e resistência à insulina.
Obesidade: especialmente a obesidade visceral (gordura abdominal).
Síndrome metabólica: combinação de hipertensão, obesidade abdominal, dislipidemia e resistência à insulina.
Hiperlipidemia: níveis elevados de triglicerídeos e/ou colesterol.
Desidratação: diminui a excreção renal de ácido úrico.
Fatores dietéticos e comportamentais
Consumo excessivo de carnes vermelhas e vísceras (fígado, rim, moela): ricos em purinas.
Frutos do mar (camarão, mexilhão, sardinha): também ricos em purinas.
Bebidas alcoólicas, especialmente cerveja e destilados: aumentam a produção e diminuem a excreção de ácido úrico.
Bebidas ricas em frutose (refrigerantes, sucos artificiais): estimulam a produção hepática de ácido úrico.
Sedentarismo: contribui para obesidade e resistência à insulina.
Uso de medicamentos
Diuréticos tiazídicos e de alça (ex.: hidroclorotiazida, furosemida): reduzem a excreção renal de ácido úrico.
Ácido acetilsalicílico em baixas doses (AAS): pode interferir na excreção.
Ciclosporina: imunossupressor que aumenta o ácido úrico.
Quimioterápicos: em casos de lise tumoral, liberam grande quantidade de purinas.
Fatores genéticos
História familiar de gota ou hiperuricemia.
Algumas mutações genéticas que afetam a excreção renal ou o metabolismo das purinas.
Consequências do aumento do ácido úrico
O aumento persistente do ácido úrico no sangue (hiperuricemia) pode levar a consequências clínicas importantes, especialmente quando não tratado. Abaixo estão as principais:
1. Gota
É a principal complicação da hiperuricemia. Ocorre quando o ácido úrico cristaliza nas articulações.
Sintomas: dor intensa, inchaço, vermelhidão, calor e rigidez — geralmente no dedo grande do pé, mas pode afetar tornozelos, joelhos, punhos, etc. Pode se tornar crônica, com formação de tofos (acúmulo de cristais sob a pele).
2. Cálculos renais (pedras nos rins)
O excesso de ácido úrico pode se cristalizar nos rins. Pode causar dor intensa (cólica renal), sangue na urina e infecções urinárias. Risco maior se o pH da urina for muito ácido.
3. Doenças cardiovasculares
A hiperuricemia está associada a maior risco de:
Hipertensão arterial
Infarto agudo do miocárdio
Acidente vascular cerebral (AVC)
Pode estar envolvido em processos inflamatórios e disfunção endotelial.
4. Doença renal crônica
O ácido úrico elevado pode contribuir para a progressão da insuficiência renal. Também ocorre o contrário: rins comprometidos eliminam menos ácido úrico, agravando o problema.
5. Resistência à insulina e síndrome metabólica
Está relacionado à piora do metabolismo da glicose. Associado a obesidade abdominal, dislipidemia e hipertensão.
6. Redução da qualidade de vida
Dor e inflamações articulares frequentes podem limitar atividades diárias. A forma crônica da gota pode causar deformidades articulares permanentes.
Tratamento da hiperuricemia
O tratamento da hiperuricemia pode envolver mudanças no estilo de vida, ajustes alimentares e, quando necessário, uso de medicamentos. A escolha depende de fatores como a causa da hiperuricemia, sintomas (como crises de gota) e presença de comorbidades.
Alimentação
Deve-se evitar:
Carnes vermelhas, vísceras (fígado, rim), frutos do mar.
Bebidas alcoólicas, especialmente cerveja.
Refrigerantes e sucos industrializados com frutose.
Alimentos ultraprocessados e ricos em gorduras saturadas.
Deve-se preferir:
Laticínios desnatados, vegetais (mesmo os ricos em purinas, como espinafre, são seguros).
Água: pelo menos 2 a 3 litros/dia para ajudar a eliminar o ácido úrico pelos rins.
Dietas hipocalóricas, se houver sobrepeso ou obesidade. A associação com atividade física é primordial para a perda de peso sustentável.
Tratamento medicamentoso
Indicado principalmente nos casos de gota (crises ou gota crônica), presença de cálculos renais por ácido úrico, níveis muito elevados (>9-10 mg/dL), mesmo sem sintomas, presença de doenças como insuficiência renal ou doença cardiovascular.
Classes de medicamentos
Redutores da produção de ácido úrico
Alopurinol: inibe a enzima xantina oxidase.
Febuxostate: alternativa ao alopurinol, especialmente em intolerância ou contraindicação.
Aumentadores da excreção de ácido úrico (uricosúricos)
Probenecida (menos usada atualmente).
Lesinurade (em combinação com inibidores da xantina oxidase, em alguns países).
Durante o início do tratamento, pode ocorrer crise de gota, por isso às vezes é prescrito junto com colchicina ou anti-inflamatório por algumas semanas.
Suplementação
Os suplementos nutracêuticos e ativos fitoterápicos têm ganhado destaque como adjuvantes ao tratamento convencional, visando reduzir os níveis séricos de ácido úrico, modular inflamação e melhorar a excreção renal. Abaixo, segue uma análise técnico-farmacêutica dos principais ativos utilizados com base em evidência científica:
Marque sua consulta de nutrição para avaliação de seu caso. Outras estratégias podem ser necessárias, como dieta hipocalórica ou suplementos para tratamento de resistência insulínica.
Acompanhamento
Monitorar níveis de ácido úrico com exames regulares.
Meta: manter < 6 mg/dL em pessoas com gota ou cálculos; < 7 mg/dL em casos assintomáticos com risco.