A pegada de carbono dos alimentos é calculada a partir da quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitidos durante o ciclo de vida dos produtos alimentares, geralmente expressa em quilogramas de CO₂ equivalente (kgCO₂e) por quilograma de alimento. O método mais comum segue estes passos:
1. Coleta de Dados Alimentares
Utiliza-se questionários de frequência alimentar (QFA) ou registros alimentares para determinar a quantidade e o tipo de alimentos consumidos por uma pessoa ou população.
Os dados são convertidos para unidades padrão (gramas ou quilogramas por dia/semana).
2. Uso de Fatores de Emissão de GEE
Cada alimento tem um fator de emissão específico, que representa a quantidade de CO₂ equivalente emitida por kg do produto.
Esses fatores são obtidos de bases de dados ambientais, como:
FAO (Food and Agriculture Organization)
IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
Base de dados Ecoinvent
Estudos científicos sobre pegada de carbono de alimentos
Exemplos de Fatores de Emissão (Valores Médios Estimados):
3. Cálculo da Pegada de Carbono Total
A pegada de carbono do consumo alimentar é obtida multiplicando-se a quantidade consumida de cada alimento pelo seu respectivo fator de emissão:
Pegada de Carbono Total=∑(Quantidade de Alimento Consumido×Fator de Emissão)Pegada de Carbono Total=∑(Quantidade de Alimento Consumido×Fator de Emissão)
Onde:
A quantidade de alimento está em kg/dia ou kg/semana
O fator de emissão está em kgCO₂e/kg
Exemplo prático:
Se uma pessoa consome 200 g de carne bovina por dia e o fator de emissão da carne bovina é 50 kgCO₂e/kg, a pegada de carbono desse consumo será:
0,2 kg×50 kgCO₂e/kg=10 kgCO₂e/dia0,2 kg×50 kgCO₂e/kg=10 kgCO₂e/dia
O mesmo cálculo é feito para todos os alimentos da dieta, e os valores são somados para obter a pegada de carbono total diária ou anual.
4. Comparação com Padrões Alimentares
Os resultados são comparados com diferentes padrões alimentares, como:
Dieta ocidental rica em carne → Maior pegada de carbono
Dieta mediterrânea → Pegada moderada, dependendo do consumo de carne e peixe
Dieta vegetariana ou vegana → Pegada de carbono significativamente menor
No estudo realizado na Universidade do Porto, esse método foi utilizado para calcular a pegada de carbono da dieta dos funcionários, revelando que uma maior adesão à dieta mediterrânea estava associada a uma pegada de carbono um pouco maior, possivelmente devido ao consumo de peixes e produtos de origem animal.
Um estudo intitulado "Adherence to the Mediterranean Food Pattern and Carbon Footprint of Food Intake by Employees of a University Setting in Portugal" foi publicado na revista Nutrients em 2024. O objetivo da pesquisa foi avaliar a adesão dos funcionários da Universidade do Porto à dieta mediterrânea e analisar a pegada de carbono associada ao seu consumo alimentar.
Principais Resultados:
Adesão à Dieta Mediterrânea: Apenas 13,2% dos participantes atingiram uma pontuação de seis ou mais na escala da dieta mediterrânea, indicando baixa adesão pela maioria.
Pegada de Carbono: A média da pegada de carbono do consumo alimentar dos participantes foi de 8146 ± 3081 CO₂ equivalente por quilograma de alimento, um valor relativamente alto em comparação com outros países.
Correlação entre Dieta e Pegada de Carbono: Houve uma correlação positiva fraca, mas estatisticamente significativa (r = 0,142, p = 0,006) entre a adesão à dieta mediterrânea e a pegada de carbono da alimentação. Isso sugere que os indivíduos com maior adesão à dieta mediterrânea tendem a ter uma pegada de carbono um pouco mais elevada.
Conclusões:
O estudo concluiu que a maioria dos participantes apresentou baixa adesão à dieta mediterrânea e uma pegada de carbono elevada relacionada ao seu consumo alimentar. Curiosamente, aqueles com maior adesão à dieta mediterrânea também apresentaram, em média, uma pegada de carbono mais alta. Esses resultados destacam a complexidade das escolhas alimentares e seus impactos ambientais.
Para mais informações detalhadas, você pode acessar o estudo completo no repositório da Universidade do Porto.