O transtorno de personalidade borderline (TPB) tem sido associado a alterações no metabolismo cerebral, incluindo o metabolismo glicolítico. Estudos de neuroimagem e neuroquímica indicam que pacientes com TPB podem apresentar disfunções no uso da glicose no cérebro, especialmente em áreas relacionadas à regulação emocional, controle de impulsos e processamento social.
Alterações no metabolismo glicolítico no TPB:
Hipometabolismo em áreas específicas
O córtex pré-frontal (especialmente o córtex orbitofrontal e dorsolateral) tende a apresentar reduzida captação de glicose, o que pode explicar dificuldades no controle emocional, impulsividade e tomada de decisões.
A amígdala, envolvida no processamento de emoções, pode apresentar hiperatividade, contribuindo para respostas emocionais intensas e desreguladas.
Diminuição da eficiência energética
Alguns estudos sugerem que o cérebro de pacientes com TPB pode apresentar menor eficiência na produção de energia via glicólise, impactando o funcionamento neuronal adequado.
Isso pode se relacionar a sintomas como fadiga mental, dificuldades cognitivas e maior vulnerabilidade ao estresse.
Resistência à insulina e impacto no humor
Há hipóteses de que pacientes com TPB tenham maior predisposição a alterações no metabolismo da glicose periférica, podendo estar mais suscetíveis à resistência à insulina.
Como a insulina também regula neurotransmissores como serotonina e dopamina, qualquer disfunção nesse eixo pode piorar sintomas de impulsividade e instabilidade emocional.
Implicações nutricionais e estratégias possíveis:
Foco na estabilidade glicêmica → Dietas com baixo índice glicêmico podem ajudar a reduzir picos de glicose e melhorar a regulação emocional.
Evitar grandes oscilações de açúcar no sangue → Pequenas refeições ao longo do dia podem evitar quedas bruscas de glicose, que podem agravar irritabilidade e impulsividade.
Apoio a mitocôndrias e função energética → Alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3, magnésio e vitaminas do complexo B podem favorecer a função cerebral.
Se o metabolismo glicolítico está comprometido, faz sentido pensar que ajustes nutricionais e estratégias metabólicas possam ajudar no manejo dos sintomas. É um campo ainda em estudo, mas pode abrir portas para novas abordagens no tratamento.
É importante lembrar que pacientes com transtorno de personalidade borderline realmente demandam um cuidado especial na construção do vínculo, e a nutrição pode ser um ponto delicado, principalmente se houver histórico de compulsão, restrições extremas ou uma relação disfuncional com a comida.
Metas nutricionais no transtorno borderline
Pequenos passos e metas realistas – Nada de mudanças drásticas. Algo como “vamos incluir uma porção de proteína no almoço?” ou “que tal tentar beber mais água essa semana?”. Pequenos sucessos ajudam a fortalecer o vínculo e evitar frustrações.
Flexibilidade – Um plano alimentar muito rígido pode gerar ansiedade e frustração. Melhor focar em direções gerais do que em regras fechadas.
Evitar discurso de “certo e errado” – Em vez de falar “não pode comer isso”, tentar algo mais acolhedor, como “vamos buscar equilíbrio e entender os momentos em que essa comida aparece?”.
Reforço positivo constante – Toda pequena conquista precisa ser validada, porque esses pacientes tendem a se desvalorizar muito.
Atenção ao emocional – O comportamento alimentar pode estar totalmente ligado a momentos de instabilidade emocional. Vale incentivar que ela registre suas emoções junto com o que come (sem rigidez, só como um exercício de consciência).
Evitar punições ou frustrações exageradas – Se ela “falhar” em alguma meta, não fazer disso um grande problema. O ideal é reformular a estratégia juntos, sempre com acolhimento.
No fundo, o mais importante é ir aos poucos, entendendo os gatilhos e garantindo que a alimentação não vire mais um fator de estresse. É um processo que exige paciência (muita!) e um vínculo bem construído, mas dá pra avançar.