Por que o remédio para diabetes não funciona igual para todo mundo?

Você já se perguntou por que algumas pessoas melhoram rápido com metformina, enquanto outras não veem tanto resultado — mesmo fazendo tudo “certo”?

A resposta pode estar no subtipo metabólico de cada pessoa. Nem todo diabetes tipo 2 é igual! O que os cientistas descobriram Estudo publicado em 2024 mostrou que o diabetes tipo 2 (e até o pré-diabetes) pode se manifestar de 4 formas diferentes, dependendo de qual mecanismo do corpo está mais alterado (Metwally et al., 2024):

1️⃣ Resistência à insulina muscular — o músculo não usa bem a glicose. 2️⃣ Resistência à insulina hepática — o fígado produz glicose em excesso. 3️⃣ Disfunção das células β — o pâncreas não produz insulina suficiente. 4️⃣ Deficiência de incretina — os hormônios intestinais não estimulam bem o pâncreas.

A maioria das pessoas com pré-diabetes ou diabetes tem um ou dois subtipos dominantes — por exemplo, resistência à insulina + disfunção da célula β. E é aí que está o problema: os tratamentos atuais geralmente são “iguais para todos”, mas cada subtipo responde melhor a terapias específicas.

Quem tem resistência à insulina costuma responder melhor a:

  • Exercício físico, voltado para o ganho de massa magra

  • Perda de peso

  • Metformina ou agonistas de GLP-1

  • Dietas com menos carboidratos e mais gordura boa

Já quem tem deficiência na secreção de insulina pode precisar de:

  • Sulfonilureias

  • Inibidores de DPP4

  • Insulina direta, dependendo da gravidade do caso

  • Refeições fracionadas, ricas em proteínas e fibras (carboidratos complexos), evitando a sobrecarga do pâncreas

Os pesquisadores mostraram que o formato da curva de glicose durante o Teste Oral de Tolerância à Glicose (OGTT) — ou até dados do monitor contínuo de glicose (CGM) — pode prever qual subtipo metabólico predomina em você!

O uso do CGM é muito interessante pois o aparelho grava centenas de pontos ao longo do tempo, criando uma espécie de “assinatura digital” da sua glicemia. E essa assinatura mostra se o problema é mais muscular, hepático ou do pâncreas. O modelo de inteligência artificial usado no estudo para tratar estes dados teve acurácia acima de 85–95% para identificar os subtipos — igual (ou até melhor) que exames de sangue complexos.

COMO IDENTIFICAR O SUBTIPO USANDO CGM

O estudo mostrou que a forma da curva de glicose durante um teste padronizado — como um OGTT (teste de tolerância à glicose) — pode revelar qual mecanismo fisiológico está mais alterado. Você pode reproduzir algo semelhante em casa usando um CGM, desde que padronize o teste. Faça um “mini-OGTT” caseiro:

  • Aplique o CGM.

  • Inicie em jejum (sem exercício ou café antes).

  • Ingira 75g de carboidratos simples (ex: 75g de glicose pura, ou 3 colheres de sopa de mel diluídas em água).

  • Meça a curva glicêmica durante 3 horas.

O CGM não mostra diretamente “se você é tipo IR muscular ou β-deficiente” — mas a forma dinâmica da curva dá fortes pistas sobre qual sistema está falhando primeiro. Com o tempo, softwares de IA (como o usado no estudo) devem automatizar isso.

Os pesquisadores, pensam em liberar o modelo de IA para outros grupos de investigação e, posteriormente, após validação, entrega de um aplicativo que possa ser usado na clínica. Por enquanto, profissionais que entendem de fisiologia (endócrinos, nutricionistas metabólicos ou cientistas de dados clínicos) já conseguem interpretar esses padrões de curva para adaptar dieta e tratamento ao seu subtipo. A observação do formato da curva permite a identificação do subtipo do paciente. Aprenda mais sobre prevenção e tratamento do diabetes aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/