Crocus sativus no tratamento da depressão

Crocus sativus L. pertencente à família Iridaceae, comumente conhecido como açafrão verdadeiro, é uma erva perene amplamente cultivada no Irã e em outros países, como Índia e Grécia. O açafrão comercial é uma especiaria composta de estigma vermelho seco com uma pequena porção do estilo amarelado preso à flor de Crocus sativus L.

A origem da palavra açafrão é o termo francês “Safran”, que foi derivado da palavra latina “safranum” e de cor amarelada, análises fitoquímicas revelaram que a cor é principalmente por causa dos compostos carotenoides degradados, crocina e crocetina.

O estigma do açafrão tem sido usado como remédio há mais de 3600 anos. O açafrão era usado em várias preparações opioides para o alívio da dor (séculos XVI a XIX). Este tempero é caro pois cada uma das flores tem apenas três estigmas de cor vermelha, e um estigma de açafrão pesa aproximadamente 2 mg. Assim, para 1 kg desta valiosa especiaria são necessárias 150.000 flores que devem ser cuidadosamente colhidas, o que exige grande mão de obra.

Ensaios clínicos demonstraram sua eficácia no tratamento da depressão leve a moderada, sendo superior ao placebo e comparável a medicamentos como imipramina e fluoxetina. A depressão, uma das cinco doenças mais prevalentes no mundo, impacta profundamente a qualidade de vida, causando sintomas como dor de cabeça, dificuldades cognitivas e perda de interesse.

Propriedades Antidepressivas do Açafrão

  • Efetividade Clínica: O açafrão tem demonstrado eficácia comparável a medicamentos como fluoxetina e imipramina no tratamento da depressão leve a moderada, sem apresentar efeitos colaterais significativos.

  • Mecanismo de Ação: Estudos sugerem que a crocina, um dos principais compostos do açafrão, aumenta os níveis de proteínas e fatores neurotróficos relacionados à saúde cerebral, além de combater o estresse oxidativo.

  • Ensaios Clínicos:

    • A crocina, em doses de 30 mg/dia, amplifica os efeitos de antidepressivos convencionais.

    • Cápsulas de açafrão mostraram ser tão eficazes quanto a fluoxetina em pacientes com depressão após intervenção coronária percutânea.

    • Ensaios duplo-cegos revelaram que as pétalas de açafrão têm efeitos antidepressivos equivalentes aos dos estigmas.

Composição Química e Fitoquímicos

O açafrão possui uma rica composição química, com destaque para:

  • Carotenoides: Crocina e crocetina são responsáveis pela coloração amarelo-alaranjada vibrante.

  • Óleos Essenciais: Safranal confere o aroma característico, enquanto a picrocrocina é responsável pelo sabor único.

  • Metabólitos Secundários: Incluem taninos, flavonoides como quercetina e kaempferol, conhecidos por seus efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes.

Além disso, esses compostos têm propriedades que auxiliam na redução da pressão arterial e no alívio da dor.

Fitoquímicos Ativos e Seus Mecanismos de Ação

Os principais componentes bioativos do açafrão incluem crocina e safranal, que demonstram efeitos antidepressivos significativos. Estudos indicam que esses compostos atuam através de:

  • Modulação dos neurotransmissores: Inibição da recaptação de dopamina, norepinefrina e serotonina, prolongando seus efeitos no cérebro.

  • Atividade antioxidante: Redução de danos causados pelo estresse oxidativo, associado à depressão.

Evidências Clínicas

Vários estudos comprovam a eficácia do açafrão no tratamento da depressão:

  1. Comparação com Antidepressivos Sintéticos:

    • Em um estudo de 6 semanas, pacientes tratados com 30 mg/dia de açafrão apresentaram melhorias comparáveis às observadas com o uso de imipramina (100 mg/dia), com efeitos colaterais mínimos.

    • Outro ensaio demonstrou que cápsulas de açafrão foram tão eficazes quanto a fluoxetina no tratamento de depressão leve a moderada.

  2. Uso das Pétalas do Açafrão:

    • As pétalas de C. sativus, uma alternativa mais econômica ao estigma, também demonstraram eficácia antidepressiva em ensaios duplo-cegos. Pacientes tratados com 30 mg/dia de pétalas obtiveram melhores resultados em escalas de avaliação de depressão do que aqueles tratados com placebo.

    • Constituintes como kaempferol, encontrados nas pétalas, mostraram-se eficazes em modelos animais, reduzindo sintomas depressivos de maneira semelhante à fluoxetina.

Farmacocinética da Crocina e Crocetina

A biodisponibilidade de compostos como a crocina, presente no açafrão, é influenciada por sua solubilidade e absorção pelo trato gastrointestinal. Estudos mostram que a crocina é rapidamente hidrolisada no intestino, convertendo-se em crocetina, que é então absorvida. No entanto, mesmo com doses repetidas de crocina, a crocetina não se acumula no sangue, sendo excretada principalmente pelas fezes.

Pesquisas indicam que a crocina tem uma biodisponibilidade menor que sua forma metabolizada, a crocetina, devido à lipofilicidade da crocetina, que dificulta sua solubilização no trato gastrointestinal. Além disso, a crocetina é propensa à saturação de absorção após doses altas e pode ser expulsa por bombas de efluxo como a glicoproteína P.

A capacidade do açafrão de atravessar a barreira hematoencefálica (BHE) e exercer efeitos antidepressivos também foi estudada. Embora a penetração da BHE ocorra lentamente, os mecanismos exatos de distribuição e metabolismo ainda são objetos de pesquisa. A crocetina, por exemplo, se distribui amplamente nos tecidos, possivelmente ligando-se à albumina plasmática, embora estudos recentes sugiram que essa ligação seja fraca, permitindo maior distribuição do composto.

Segurança e Toxicidade

Em termos de segurança, a maioria das doses terapêuticas de açafrão não apresenta toxicidade significativa. Estudos clínicos mostraram que doses de 200 a 400 mg/dia de açafrão por uma semana não resultaram em efeitos adversos. O uso de crocina em pacientes com esquizofrenia também não apresentou toxicidade relevante nos rins, fígado ou sistema hematológico.

Contudo, quando consumido em grandes quantidades, o açafrão pode apresentar efeitos teratogênicos, como aumento de mortalidade fetal, anomalias morfológicas e aborto espontâneo. Doses altas de açafrão (mais de 5 g/dia) são associadas a riscos de hemorragia, trombocitopenia e efeitos abortivos. Já em doses culinárias, o açafrão não causa toxicidade significativa.

Estudos também revelaram que a ingestão prolongada de açafrão (60 mg/dia por 26 semanas) pode afetar a contagem de glóbulos vermelhos e brancos, além de reduzir a pressão arterial e causar sedação, hipomania e alterações no apetite (Siddiqui et al., 2018).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/