Mecanismos das Doenças Autoimunes e o Papel da Vitamina D

As doenças autoimunes são caracterizadas por um mau funcionamento do sistema imunológico, que passa a atacar os próprios tecidos do organismo. Os mecanismos exatos variam de uma doença para outra, mas alguns fatores comuns incluem:

  • Genes: A predisposição genética aumenta o risco de desenvolver determinadas doenças autoimunes. Vários polimorfismos podem influenciar a ação da vitamina D, um hormônio imunomodulador. Acredita-se que nas doenças autoimunes exista uma resistência à vitamina D (Lemke et al., 2021).

  • Ambiente: Fatores ambientais, como infecções (como Epstein Barr), uso de glicocorticóides, baixa esposição solar, toxinas e até mesmo a dieta, podem desencadear a resposta autoimune em indivíduos geneticamente predispostos.

  • Disfunção dos linfócitos T e B: Essas células do sistema imune, responsáveis pela defesa contra agentes invasores, podem se tornar hiperativas e atacar as células do próprio organismo.

  • Produção de autoanticorpos: O sistema imune produz anticorpos que, em vez de combater agentes externos, atacam os próprios tecidos.

  • Inflamação crônica: A inflamação crônica é uma característica comum das doenças autoimunes e contribui para a destruição dos tecidos.

  • Envelhecimento: O sistema imunológico passa por uma série de modificações com o passar dos anos. Esse processo, conhecido como imunossenescência, é caracterizado por uma redução na eficiência das respostas imunológicas e um aumento da inflamação crônica no corpo, chamada de inflamação crônica de baixo grau ou inflammaging.

Papel da Vitamina D no Controle da Autoimunidade

A vitamina D desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico. Estudos sugerem que a deficiência de vitamina D pode estar associada a um aumento do risco de desenvolver doenças autoimunes. Alguns dos mecanismos pelos quais a vitamina D pode ajudar a controlar a autoimunidade incluem:

  • Modulação da resposta imune: A vitamina D inibe a proliferação e ativação de células T e B, reduzindo a resposta inflamatória.

  • Aumento da produção de células T reguladoras: Essas células têm a função de suprimir a resposta imune e prevenir a autoimunidade.

  • Redução da produção de citocinas pró-inflamatórias: A vitamina D diminui a produção de substâncias que promovem a inflamação, como o fator de necrose tumoral (TNF-alfa) e a interleucina-6 (IL-6).

  • Efeito antiproliferativo: A vitamina D pode induzir a morte de células T auto-reativas, ajudando a controlar a autoimunidade.

Suplementação de Vitamina D

A vitamina D é tanto essencial para a saúde dos ossos, quanto na regulação do sistema imunológico. Quando os níveis de vitamina D estão baixos, o paratormônio (PTH) é produzido em maior quantidade para estimular a liberação de cálcio dos ossos.

A dosagem ideal de vitamina D varia de acordo com:

  • Níveis de vitamina D: A dosagem será ajustada para elevar os níveis de 25(OH)D para a faixa terapêutica (acima de 40 ng/mL).

  • Idade: Crianças, adolescentes e idosos podem ter necessidades diferentes.

  • Peso: Pessoas com sobrepeso ou obesidade podem precisar de doses maiores, pois a vitamina D, que é lipossolúvel, é sequestrada pela gordura.

  • Níveis de PTH: Para PTH moderadamente elevado (acima do ideal, mas abaixo de um nível severo):

    • Dose inicial de vitamina D: Para pacientes com níveis adequados de vitamina D recomenda-se dose de manutenção de 2.000 a 4.000 UI/dia.

    • Para PTH significativamente elevado indica-se doses de 5.000 a 10.000 UI por 8 a 12 semanas, seguida de nova avaliação de PTH e vitamina D. Em doses altas o cálcio deve ser restrito na dieta. Pacientes com PTH ainda alto e alterações genéticas para vitamina D (como receptor VDR) é feito o protocolo Coimbra, com doses que podem chegar a 100.000 UI ou mais ao dia, por cerca de 2 anos. Estes casos devem ser acompanhados por médicos especialistas no protocolo Coimbra.

Ajuste da vitamina A

Estas duas vitaminas são lipossolúveis, sendo que a vitamina A facilita a ação da vitamina D em seus receptores. Por exemplo, esta associação entre estas vitaminas ajuda a reduzir o risco de câncer de pulmão (Cheng et al., 2014). É interessante suplementar vitamina A em pacientes com doença autoimune seguindo o protocolo Coimbra (com altas doses de vitamina D). Isto porque a vitamina A protege o organismo contra os possíveis efeitos tóxicos da vitamina D (Bouche, 2014).

Quem toma 10.000 UI de vitamina D deve suplementar 1.000 mcg de vitamina A, quem toma 15.000 UI de vitamina D deve suplementar 1.500 mcg de vitamina A. Nutricionistas podem prescrever até 4.000 UI de vitamina D e médicos podem prescrever doses maiores (efeito hormonal). Já a dose máxima de vitamina A a ser prescrita por nutricionistas é de 3.000 mcg/dia.

Caso o PTH esteja baixo: É importante investigar a causa, já que pode ser sinal de um excesso de vitamina D ou outras condições médicas. Nesses casos, a suplementação de vitamina D deve ser ajustada ou suspensa temporariamente.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/