ACTH elevado, cortisol alto e neuroinflamação

O cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas supra-renais, conhecido por sua função crucial na resposta ao estresse. Ele também desempenha um papel importante no metabolismo, na regulação do sono e na resposta imune. Quando o corpo experimenta estresse, os níveis de cortisol aumentam como parte da reação de "luta ou fuga", ajudando a mobilizar energia e a melhorar a capacidade de resposta a situações ameaçadoras.

Cortisol e Neuroinflamação

A neuroinflamação se refere à inflamação no sistema nervoso central, que pode ser desencadeada por vários fatores, incluindo infecções, lesões, doenças neurodegenerativas e disfunções no sistema imunológico. Quando a neuroinflamação ocorre, ela pode afetar negativamente a função cerebral e está associada a várias condições, como depressão, ansiedade, Alzheimer, Parkinson e esclerose múltipla.

O cortisol tem uma relação complexa com a neuroinflamação. Em situações normais, o cortisol pode atuar como um anti-inflamatório, ajudando a regular a resposta inflamatória no corpo. No entanto, quando o estresse se torna crônico e os níveis de cortisol permanecem elevados por períodos prolongados, o efeito pode ser oposto. A exposição crônica a altos níveis de cortisol pode, na verdade, contribuir para a neuroinflamação e prejudicar a função cerebral. Isso ocorre porque o cortisol em excesso pode afetar a função das células do sistema nervoso, como os neurônios e as células gliais, e alterar o equilíbrio dos mediadores inflamatórios.

Alguns efeitos do cortisol na neuroinflamação incluem:

  1. Alteração na função das células microgliais: As células microgliais são as células do sistema imune no cérebro e têm um papel central na modulação da inflamação. O cortisol, em níveis cronicamente elevados, pode ativar essas células de forma excessiva, levando a um aumento da inflamação no cérebro.

  2. Dano aos neurônios: O cortisol em excesso pode afetar a plasticidade sináptica (a capacidade do cérebro de adaptar suas conexões neuronais), o que está relacionado com problemas de memória e aprendizagem. A neuroinflamação, por sua vez, pode amplificar esse dano.

  3. Aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica: O cortisol pode aumentar a permeabilidade da barreira hematoencefálica, que normalmente protege o cérebro de substâncias potencialmente prejudiciais. Quando essa barreira se torna mais permeável, as células inflamatórias podem entrar mais facilmente no cérebro e intensificar a neuroinflamação.

  4. Alterações nos neurotransmissores: O cortisol também pode afetar a atividade de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que são cruciais para o bem-estar emocional. O desequilíbrio nesses neurotransmissores pode contribuir para doenças psiquiátricas, como depressão e ansiedade, que frequentemente estão associadas a uma inflamação cerebral aumentada.

Relação entre Cortisol e ACTH

O ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) é produzido pela glândula pituitária (hipófise) e estimula as glândulas supra-renais a produzir cortisol. Normalmente, existe um feedback negativo entre o cortisol e o ACTH: níveis elevados de cortisol no sangue diminuem a secreção de ACTH pela hipófise, e níveis baixos de cortisol estimulam o aumento da produção de ACTH.

Interpretação de exame

Paciente com cortisol sérico de 6,15 µg/dL e ACTH de 59,1 pg/mL

Um valor de 6,15 µg/dL de cortisol pode ser considerado dentro de um intervalo normal, dependendo do horário da coleta (o cortisol segue um ritmo circadiano, com picos pela manhã e queda à noite). Em geral, um valor de cortisol matutino inferior a 10-15 µg/dL é considerado normal em muitas referências, mas sempre é importante verificar os limites de referência do laboratório.

O valor de 59,1 pg/mL é acima do limite superior de referência (até 46 pg/mL). Um ACTH elevado pode ocorrer em várias situações, como:

  • Doença de Cushing: uma condição em que há uma produção excessiva de cortisol devido à produção elevada de ACTH. Isso pode ocorrer devido a um tumor pituitário (adenoma hipofisário) que secreta ACTH em excesso.

  • Insuficiência adrenal primária (doença de Addison): A hipófise responde a níveis baixos de cortisol aumentando a produção de ACTH. No entanto, os níveis de cortisol estariam baixos, não elevados.

  • Estresse físico ou psicológico: O ACTH pode se elevar em situações de estresse agudo, o que pode resultar em um aumento compensatório do cortisol.

Observação: Pergunte se o paciente do dia da coleta passou mal sensação de hipotensão , sudorese, palidez labial , extremidades frias. Alguns casos de ACTH elevado assim também podem espelhar uma hipoglicemia durante a coleta e na tentativa de compensar o quadro o ACTH e estimulado para que o cortisol ajude na mobilização da glicose intracelular. Alguns pacientes passam mal pela quantidade de sangue coletado.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/