Vitamina D e câncer

A vitamina D tem mostrado um grande potencial na redução do risco e progressão do câncer. Seus efeitos anticancerígenos estão relacionados a vários mecanismos, incluindo suas interações com o supressor tumoral p53 (o guardião do DNA) e a via de sinalização Wnt/β-catenina, ambas cruciais na regulação do crescimento celular, proliferação e apoptose. Aqui está uma explicação detalhada desses mecanismos:

1. Vitamina D e seu Receptor (VDR)

A vitamina D, especificamente na sua forma ativa 1,25-dihidroxivitamina D3 (calcitriol), exerce seus efeitos biológicos ao se ligar ao receptor de vitamina D (VDR), um receptor nuclear. Esse complexo regula a expressão de vários genes envolvidos na diferenciação celular, proliferação e apoptose.

A vitamina D promove a diferenciação das células, impedindo que proliferem em um estado indiferenciado e potencialmente cancerígeno. A vitamina D regula o ciclo celular, geralmente interrompendo-o na fase G1, o que evita o crescimento celular descontrolado, uma característica do câncer. Ao estimular a via apoptótica, a vitamina D ajuda a eliminar células danificadas ou mutadas antes que se tornem malignas. Como a inflamação crônica está ligada ao câncer, a capacidade da vitamina D de reduzir a inflamação ajuda a diminuir o risco de câncer.

2. Vitamina D e p53

O p53 é uma proteína supressora de tumores crucial, frequentemente chamada de "guardião do genoma" por seu papel em prevenir a instabilidade genômica. Ele atua induzindo a reparação do DNA, a parada do ciclo celular ou a apoptose em resposta a danos no DNA.

A sinalização da vitamina D/VDR aumenta a atividade do p53, reforçando suas funções de supressão tumoral. Isso inclui a regulação positiva dos genes alvo do p53, envolvidos na reparação do DNA e na apoptose.

Estudos mostram que a vitamina D pode aumentar a estabilidade e expressão do p53, melhorando os mecanismos de prevenção do câncer. Um dos principais alvos do p53 é o p21, um inibidor de cinase dependente de ciclinas que controla o ciclo celular. A vitamina D regula o p21, contribuindo ainda mais para a parada do ciclo celular e redução do crescimento tumoral.

Em muitos cânceres, o p53 é mutado, o que muitas vezes contribui para o crescimento celular descontrolado. A vitamina D tem o potencial de reduzir o acúmulo de proteínas p53 mutantes, o que pode dificultar a progressão de cânceres impulsionados por mutações no p53.

3. Vitamina D e β-catenina (Sinalização Wnt/β-catenina)

A via de sinalização Wnt/β-catenina desempenha um papel crucial na embriogênese e na homeostase tecidual. No entanto, a ativação aberrante dessa via está implicada no desenvolvimento de câncer, especialmente no câncer colorretal.

A via Wnt/β-catenina é rigidamente regulada pela vitamina D. Quando essa via está superativada, a β-catenina se acumula no núcleo, onde ativa a transcrição de genes envolvidos na proliferação celular e sobrevivência, promovendo o crescimento do câncer.

A vitamina D (por meio do VDR) interage com a β-catenina para impedir sua acumulação no núcleo. Isso reduz a transcrição de genes que impulsionam a proliferação celular e o crescimento tumoral.

O VDR compete com os fatores de transcrição TCF/LEF pela ligação à β-catenina, reduzindo a atividade transcricional da β-catenina. A vitamina D também ajuda a manter a expressão de E-caderina, uma molécula de adesão celular que sequestra a β-catenina na membrana celular. Isso limita a disponibilidade de β-catenina para se translocar para o núcleo, inibindo ainda mais seu potencial oncogênico.

4. Interação entre p53 e β-catenina

Há evidências de interação entre p53 e a via Wnt/β-catenina no câncer. O p53 pode inibir a sinalização da β-catenina, enquanto a β-catenina pode modular a atividade do p53, criando um ciclo de retroalimentação.

O efeito combinado da vitamina D em ambas as vias ajuda a reforçar as ações de supressão tumoral, pois aumenta a função do p53 e inibe os efeitos pró-proliferativos da β-catenina. Essa ação dupla é significativa na contenção da progressão do câncer.

O livro de Michael F. Holick, "Vitamina D", é considerado uma referência essencial sobre a vitamina D. Ele oferece informações detalhadas sobre a importância este hormônio e como ele melhorar a saúde de todos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/