A esclerose múltipla (EM) é uma doença desmielinizante crônica caracterizada por inflamação e neurodegeneração. Fatores genéticos e ambientais desempenham um papel na etiopatogenia desta doença. A doença pode ser significativamente afetada por exposições ambientais e alterações do microbiota intestinal, como redução na produção de ácidos biliares neuroprotetores.
Os ácidos biliares são produtos finais do metabolismo do colesterol e têm múltiplas funções biológicas. Os ácidos biliares primários são produzidos principalmente no fígado, mas outros tecidos são capazes de produzir precursores de ácidos biliares (oxiesteróis) por meio de uma via alternativa "ácida". Os ácidos biliares primários são modificados (conjugados com glicina ou taurina) e então armazenados na vesícula biliar até serem secretados no intestino, onde são posteriormente modificados por enzimas presentes nas bactérias intestinais para produzir ácidos biliares secundários.
A maioria dos ácidos biliares é reabsorvida e então passa por recirculação entero-hepática através do sistema venoso portal, com uma pequena fração atingindo a circulação sistêmica. Os ácidos biliares circulantes podem atuar em múltiplos receptores, tanto nucleares (receptor farnesoide X [FXR]) quanto de superfície celular (receptor de ácido biliar acoplado à proteína G, [GPBAR1]), encontrados em células incluindo aquelas no cérebro e no sistema imunológico.
A ativação dos receptores FXR e GPBAR1 pelos ácidos biliares no cérebro produz efeitos antiinflamatórios em células imunes inatas e gliais. A abundância de ácidos biliares em adultos e crianças com esclerose múltipla parece ser menor.
Como ácidos bililares reduzem declínio cognitivo, especialmente pelo controle do estresse oxidativo e neuroinflamação, o desequilíbrio associa-se a doenças como Parkinson, Alzheimer e Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Por isso, a suplementação de TUDCA vem sendo indicada.
Em estudo de Bhargava e colaboradores (2020), a suplementação de TUDCA melhorou a doença em um modelo murino de EM por meio de seus efeitos no GPBAR1. Além do potencial efeito indireto por meio da prevenção da polarização da microglia, o TUDCA pode atuar diretamente nos astrócitos e bloquear sua polarização para um fenótipo A1. O tratamento com TUDCA diminuiu a regulação positiva de genes específicos de A1 de maneira dose-dependente.
A mudança na expressão gênica resultou em uma mudança funcional, a da redução da toxicidade do ACM para oligodendrócitos. Isso tem implicações importantes, uma vez que esse subconjunto de astrócitos pode desempenhar um papel crítico na neurodegeneração em distúrbios como a doença de Parkinson (DP), DA e EM.
Ao suplementar, deve-se acompanhar enzimas hepáticas, bilirrubinas no sangue e não deve ser usada em pacientes com problemas no fígado. É possível fazer dosagem de ácidos biliares secundários no líquor e de estercobilinogênio nas fezes.
Após a bilirrubina conjugada ser secretada pelo fígado para o intestino através da bile, ela é convertida em urobilinogênio por bactérias intestinais. Parte desse urobilinogênio é reabsorvido e pode ser excretado pelos rins na urina, enquanto outra parte é convertida em estercobilina ou estercobilinogênio, que dá às fezes sua cor marrom característica.
Assim, o estercobilinogênio é uma substância essencial no processo de eliminação da bilirrubina e também é um indicador da função do fígado e do sistema biliar. Se houver obstrução ou disfunção nesse processo, isso pode resultar em fezes mais claras e alterações nos níveis de bilirrubina no corpo.
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