O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é frequentemente associado a comportamentos alimentares desafiadores, como seletividade alimentar e padrões alimentares repetitivos, que não só podem afetar o crescimento e a nutrição dos pacientes, mas também influenciam a composição do microbioma intestinal. A dieta pode desempenhar um papel importante na modulação da saúde intestinal, e alguns estudos sugerem que intervenções dietéticas podem impactar positivamente os sintomas do TEA, especialmente através de modificações no microbioma intestinal.
A Dieta Cetogênica e seus Efeitos no Microbioma Intestinal
A dieta cetogênica (KD), que é rica em gorduras, pobre em carboidratos e com proteínas adequadas, é bem estabelecida no tratamento da epilepsia infantil farmacologicamente resistente e tem mostrado potencial para benefícios neuroprotetores em indivíduos com TEA. Pesquisas com camundongos BTBR, um modelo de TEA, indicaram que a dieta cetogênica pode modificar o microbioma intestinal, levando a uma redução na abundância de bactérias, especialmente aquelas que metabolizam carboidratos não digeridos. Os resultados sugerem que a dieta cetogênica pode melhorar os sintomas do TEA ao promover um equilíbrio bacteriano mais favorável, com o aumento de produtores de ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs), como C. coccoides e C. leptum.
Suplementos Nutricionais e o Microbioma no TEA
Além da dieta cetogênica, suplementos nutricionais também têm sido investigados para seus efeitos no microbioma e no comportamento de indivíduos com TEA. Um estudo sobre a suplementação com galacto-oligossacarídeos prebióticos (B-GOS®) mostrou melhorias na composição do microbioma intestinal e no comportamento de crianças com autismo. A suplementação aumentou a abundância de Bifidobacteria, especialmente B. longum, e membros da família Lachnospiraceae, conhecidos por produzir butirato, um ácido graxo benéfico para a saúde intestinal. Além disso, os níveis fecais de aminoácidos, que podem indicar problemas na barreira intestinal, diminuíram, sugerindo que a suplementação com B-GOS® também pode melhorar a saúde intestinal.
Outros estudos investigaram a administração de suplementos de vitamina A em crianças autistas, mas não observaram alterações significativas nos sintomas do TEA, apesar das mudanças na composição do microbioma intestinal. Outro estudo piloto indicou que o colostro bovino (BCP), um produto rico em fatores imunológicos e prebióticos, melhorou os sintomas gastrointestinais e comportamentais em crianças autistas. No entanto, não foram encontradas mudanças significativas na composição microbiana intestinal após o tratamento com BCP.
Desafios e Perspectivas Futuras
Embora os dados sugiram que intervenções dietéticas e suplementos possam ter efeitos benéficos no TEA, os resultados dos estudos são, em sua maioria, inconclusivos. A variabilidade entre os indivíduos, tanto no microbioma intestinal quanto nos resultados do tratamento, pode ser um fator importante. Além disso, a falta de padronização na análise do microbioma e a pequena amostra de participantes nos estudos dificultam a generalização dos resultados.
Para avançar nesse campo, é crucial adotar métodos mais rigorosos, como estudos com amostras maiores, e incorporar abordagens multiômicas que permitam avaliar as alterações metabólicas e a composição microbiana de maneira mais detalhada. Além disso, mais pesquisas são necessárias para entender os efeitos a longo prazo das modificações dietéticas no microbioma intestinal e identificar quais intervenções podem trazer os maiores benefícios para os indivíduos com TEA.
Em resumo, enquanto as intervenções dietéticas, como a dieta cetogênica, suplementos prebióticos e vitamínicos, mostram potencial para melhorar o microbioma intestinal e os sintomas do TEA, é necessário realizar mais pesquisas para confirmar esses efeitos e desenvolver estratégias de tratamento mais eficazes e personalizadas.
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