Frango ainda é um bom alimento?

Há alguns anos um grupo de pesquisadores do Canadá comparou como três raças comerciais de frango cresceram nas últimas décadas. Com oito semanas a variedade mais moderna de frango, chamada Ross 308, pesava cerca de 2,3 vezes mais que a de 1978… e 4,6 vezes mais que a de 1957. Ou seja, em menos de 50 anos os frangos cresceram 364%.

Essa mudança profunda na produtividade da indústria de frangos de corte foi alcançada por meio de seleção genética intencional. Com frangos que crescem em menos tempo e ficam mais pesado o abate é precoce. O preço da carne é barateado, a indústria lucra e as pessoas comem mais.

Contudo, para tanto, a maior parte das aves são mantidas em gaiolas, exercitam-se menos ou nada, o que faz com que o número de doenças também aumente. Nos Estados Unidos, a carne de frango é responsável por mais de 3.000 casos de intoxicação por ano. O frango é um reservatório natural para a bactéria salmonela e, embora o cozimento adequado possa matar a maioria das cepas de salmonela reduzindo o risco de infecção, é muito frequente a contaminação cruzada (entre alimentos mau cozidos), além de intoxicação pela toxina produzida pela salmonela.

O frango também é particularmente propenso à contaminação com patógenos perigosos, incluindo bactérias resistentes a antibióticos. Estudos mostraram que até 80% dos frangos de corte inteiros abrigavam não só salmonela mas também campylobacter, clostridium perfringens, enterococcus faecalis e listeria.

O uso excessivo de antibióticos em aves e outros animais é o principal fator de resistência a antibióticos em humanos. Os antibióticos promovem o desenvolvimento de bactérias resistentes aos medicamentos nos animais, e essas bactérias ainda estão na carne quando você a compra. Esse é o principal perigo – não que a carne possa conter vestígios de antibióticos. Em última análise, são as bactérias resistentes aos antibióticos que matam. De acordo com previsões de órgãos de saúde internacionais, 10 milhões de pessoas em todo o mundo morrerão de doenças resistentes a antibióticos até 2050.

Indústrias avícolas ao redor do mundo usam também um produto químico pouco conhecido chamado ácido peracético, um agente branqueador incolor com um odor levemente avinagrado. O uso serve para reduzir as bactérias das carcaças de frangos e perus, mas que pode ser tóxico para o sangue, rins, pulmões, fígado, membranas mucosas, coração, sistema cardiovascular, trato respiratório superior, pele, olhos, sistema nervoso central, dentes. A exposição repetida ou prolongada à substância pode causar danos a estes órgãos e deteriorar a saúde ao longo do tempo. Na Europa o produto não é permitido. Mesmo assim, vale a pena reduzir seu consumo de carnes (de todos os tipos). Se não conseguir eliminar, comer apenas 3 vezes por semana é muito melhor para você e para o meio ambiente do que o consumo diário. Quando for comer aves o ideal é comprar a variedade orgânica, que não utiliza antibióticos.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/