A nutrigenômica estuda os efeitos dos nutrientes na expressão dos genes de uma pessoa. Estuda também os fatores nutricionais que protegem o genoma de danos. Em última análise, esta ciência busca entender o impacto dos componentes da dieta no genoma, no proteoma (a soma total de todas as proteínas) e no metaboloma (a soma de todos os metabólitos) (Mead, 2007; Cominetti, Horst, & Rogero, 2017).
Por que isto é importante? Da mesma forma que um medicamento não tem o mesmo efeito em todas as pessoas, o mesmo acontece com os componentes da dieta. Mas agora uma outra ciência desponta: a nutrimirômica.
Nutrimirômica
Esta área da nutrição estuda as interações entre componentes da dieta e a modificação da expressão genética que envolvem processos epigenéticos relacionados aos microRNAs (Quintanilha et al., 2017).
Os microRNAs são importantes reguladores da expressão gênica, controlando ambos os processos fisiológicos quanto os patológicos. São pedaços de RNA não-codificantes as quais impedem a transcrição do DNA. Por exemplo, na Síndrome de Down, o microRNA-155 expressa-se exageradamente e acaba afetando negativamente a aprendizagem, memória e comportamento.
A boa notícia é que nutrientes isolados ou compostos bioativos podem regular a expressão dos microRNAs que afetam negativamente a saúde. Por exemplo, o resveratrol (3,5,4′-trihydroxystilbene), substância antioxidante encontrada nas uvas roxas, amora, mirtilo e amendoim diminui os níveis do microRNA-155 normalizando vias metabólicas na síndrome de Down.
Estudos também mostram que os microRNAs estão associados à processos inflamatórios em várias doenças. Na obesidade, microRNAs (miR-20a, miR-17 e miR-106a) contribuem para infiltração de macrófagos no tecido adiposo inflamando o tecido e dificultando a perda de peso.
A curcumina, um polifenol de cor amarela obtida a partir do açafrão (Curcuma longa L.) possui um excelente poder antioxidante e antiinflamatório. Pessoas que fazem uso da curcumina tem a expressão de miR-155 reduzida, assim como a produção de citocinas inflamatórias (TNF-α e IL-6).
APRENDA A INTERPRETAR EXAMES NUTRIGENÉTICOS
A quercetina é outro composto bioativo encontrado em cebolas, frutas cítricas e maçãs. Seu uso reduz a expressão do miR-155 e a ativação do NF-κB, atenuando o processo inflamatório. O mesmo ocorre após a exposição às catequinas do chá verde.
A superexpressão de microRNAs parece aumentar o risco de doenças cardiovasculares. A suplementação de selênio e coenzima Q10 diminui a expressão de 101 miRNAs. Outro mineral importante no processo inflamatório é o zinco. Sua deficiência altera a expressão de miRNAs em vários tecidos.
Uma vitamina muito importante neste sentido é a D (1,25(OH)D2). Seu consumo adequado reduz a inflamação pela menor expressão do miR-155. A vitamina D também diminui a sinalização de NF-κB
Estudos nesta área ainda são muito novos, mas com certeza os próximos anos trarão muitas descobertas para que possamos usar a dieta cada vez mais a nosso favor.