Suplementos para prevenção e tratamento da diabetes gestacional

O estado nutricional antes e durante a gravidez tem um impacto enorme na saúde da mulher e no desenvolvimento e crescimento do bebê. O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é a complicação médica mais comum na gravidez e aumenta o risco de pré-eclâmpsia, trabalho de parto prematuro, bebê muito grande para a idade gestacional, hipoglicemia neonatal, necessidade de cesariana. Também aumenta o risco futuro de hipertensão, diabetes tipo 2, doença hepática gordurosa e doença cardiovascular tanto nas mães, quanto em seus filhos.

Os cuidados devem começar antes da gestação

Aumentar a ingestão de vegetais, frutas, grãos integrais, nozes, legumes e peixes pode diminuir o risco de diabetes na gravidez. Já o alto consumo de carne vermelha, carne processada e ovos pode aumentar o risco de diabetes gestacional. O aconselhamento dietético deve iniciar-se pelo menos 3 meses antes da mulher começar a tentar engravidar, devendo ser feito por um nutricionista clínico treinado.

Se a mulher estiver acima do peso ou diagnóstico de obesidade o acompanhamento deve iniciar-se antes. O excesso de peso é o principal fator de risco modificável para diabetes. Além disso, mulheres com obesidade costumam ter mais deficiências nutricionais (como de vitamina D), podem ter disfunções também importantes imunológicas, na microbiota e hormonais.

Suplementação durante a gestação e risco de diabetes gestacional

Vários estudos examinaram o efeito da atividade física, alimentação saudável e vários suplementos alimentares no risco de desenvolvimento da doença. Probióticos são interessantes pois modulam a microbiota intestinal levando a uma melhoria no metabolismo da glicose e lipídios, o que se propõe a reduzir o risco de diabetes gestacional. Além disso, a combinação adequada de probióticos (cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium) durante a gravidez reduz o risco de eventos inflamatórios e pré-eclâmpsia.

A suplementação de ômega-e também é indicada. A gravidez prejudica o metabolismo lipídico e altera a concentração sérica de ácidos graxos livres (AGL), triglicerídeos (T.G.), colesterol total (T.C.), lipoproteína de alta densidade (HDL) e lipoproteína de baixa densidade (LDL) (44). De fato, há um aumento constante no T.G. e lipoproteínas a partir da oitava semana de gestação. O diabetes gestacional agrava ainda mais o metabolismo dos lipídios. Comparadas às mulheres com tolerância normal à glicose, as mulheres com diabetes gestacional apresentaram níveis mais altos de T.G., partículas densas de LDL, T.C., níveis mais baixos de HDL (colesterol bom).

Na gravidez, a maioria dos estudos não mostrou benefício da suplementação de ômega-3, provavelmente devido a baixa dose de ômega-3 utilizada nos ensaios, curta duração da suplementação e pequeno tamanho da amostra. Uma meta-análise de 14 estudos mostrou efeitos favoráveis ​​do tratamento com ômega-3 no HDL, mas não no T.G., HOMA-IR e glicemia de jejum. Dos 14 estudos, apenas um utilizou a dose de 4 gramas; a maioria dos estudos durou <20 semanas e envolveu <100 indivíduos. Uma revisão recente da Cochrane mostrou outros benefícios potenciais da suplementação de ômega-3 na gravidez. A revisão. A suplementação de ômega-3 mostrou redução do parto prematuro (<37 semanas de gestação), parto prematuro precoce (<34 semanas de gestação) e do risco de baixo peso ao nascer.

A deficiência materna de vitamina D tem sido associada a um risco elevado de diabetes na gestação e a suplementação pode melhorar a hemostasia da glicose, diminuindo a glicemia de jejum, hemoglobina glicada e a concentração sérica de insulina. Infelizmente, a deficiência de vitamina D não é incomum entre mulheres grávidas.

Além de melhorar os marcadores de resistência à insulina em mulheres com diabetes gestacional, a vitamina D associada ao o óleo de prímula reduz significativamente as concentrações séricas de triglicerídeos, VLDL, colesterol total e LDL. A co-suplementação de vitamina D-magnésio-zinco-cálcio para mulheres com diabetes gestacional por 6 semanas mostrou reduzir a inflamação e biomarcadores de estresse oxidativo (proteína C reativa e concentrações plasmáticas de malondialdeído) e aumentar os níveis de capacidade antioxidante total.

Por fim, o mio-inositol, um açúcar poliol natural comumente encontrado em cereais, feijões, nozes, carne, legumes e frutas cítricas frescas é indicado. Mio-Inositol e Chiro-Inositol são precursores de inositol, conhecidos como inositol fosfoglicanos.

O mio-inositol é um componente das membranas de todas as células vivas e pode ser produzido pelo corpo humano a partir da D-glicose. Também desempenha um papel na síntese de lipídios e ocorre em sua forma livre como componente de fosfolipídios ou como ácido fítico. É um mediador de sensibilização à insulina, que reduz os níveis de glicose no plasma, melhora a sensibilidade à insulina e a função ovulatória em mulheres jovens com ovários policísticos. O mio-inositol é necessário tanto para a produção quanto para a ativação da PI3 Kinase, essencial para o metabolismo normal da glicose celular.

Estudos mostram que a suplementação de 2g de mioinositol a partir do segundo trimestre gestacional reduz a incidência de diabetes na gravidez e de macrossomia nos bebês. É um suplemento interessante para mulheres com histórico de resistência insulínica, diabetes na família, obesidade ou que tiveram bebês nascidos grandes de mais em gestações anteriores.

Mulheres diagnosticadas com diabetes gestacional

Em mulheres já diagnosticadas com diabetes gestacional, além dos suplementos acima podem ser utilizados minerais como magnésio, zinco, selênio, associados à dieta de baixo índice glicêmico e atividade física. A suplementação de magnésio por 6 semanas em mulheres com diabetes gestacional demonstrou ter efeitos benéficos na expressão de marcadores inflamatórios e genes relacionados à insulina e metabolismo lipídico. Zinco e selênio são oligoelementos necessários para a atividade da tireóide e de enzimas antioxidantes como a glutationa peroxidase. O nível dos dois minerais costuma cair durante a gravidez

Front. Nutr., 08 April 2022 | https://doi.org/10.3389/fnut.2022.867099

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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