Crononutrição e envelhecimento do cérebro

Sabia que o leite materno possui diferentes composições ao longo do dia? Pois é, nosso metabolismo todo varia de acordo com que as horas vão passando. E qualquer reação metabólica depende de nutrientes. É por isso que o estudo da nutrição vem ganhando cada vez mais espaço. É como se dentro de cada órgão tivéssemos um relógio, que controla a secreção de hormônios, a produção de enzimas, anticorpos ou qualquer outra proteína.

No período matutino genes como BMAL1 e CLOCK estão mais expressos, enquanto no no período noturno PER e CRY estão mais ativos. Quando dormimos e nos alimentamos bem tudo se alinha mas quando as horas de sono estão comprometidas, quando o organismo está inflamado ou o intestino deixa de funcionar instala-se a cronodisrupção. A mesma está associada a maior risco de síndrome metabólica, diabetes, problemas cardiovasculares e até maior risco de demência. Por exemplo, à noite temos menor tolerância à glicose e maior tendência à inflamação. Por isso, tantas pessoas beneficiam-se de jejuns de 12 a 16 horas.

O relógio epigenético também poderia nos informar sobre a rapidez com que envelhecemos e como somos propensos a doenças da velhice. Envelhecemos em velocidades diferentes. Cientistas da Universidade de Exeter analisaram amostras do cérebro humano de pessoas falecidas entre o primeiro ano de vida até 108 anos de idade, identificando 347 locais de metilação do DNA que predizem a idade do córtex humano, quando usados de forma combinada (por isso a importância de estudos genômicos de larga escala). Os genes metilados, correlacionados com o envelhecimento, foram batizados de “relógios epigenéticos”. A equipe está trabalhando agora em amostras do cérebro de pacientes que faleceram com diagnóstico de doença de Alzheimer e tentando identificar como diferentes níveis de metilação afetam a neurodegeneração, demência e outros fenótipos (Shireby et al., 2020).

Se pudermos prever com mais precisão o envelhecimento do cérebro e desvendar as causas subjacentes dessa condição altamente complexa, teremos a maior oportunidade de desenvolver tratamentos eficazes que podem retardar sua progressão. O envelhecimento cerebral também é marcado pelo encurtamento dos telômeros, que pode ser minimizado com um estilo de vida apropriado:

Nutrigenômica é “o estudo das interações bidirecionais entre genes e dieta”. O estudo da epigenética abrange todos os processos que induzem alterações hereditárias na expressão gênica sem uma alteração na sequência de nucleotídeos do DNA. Os principais mecanismos epigenéticos são metilação do DNA (DNAm), modificação de histonas e RNA não codificante, assuntos tratados neste curso. A desregulação epigenética é muito observada com o processo de envelhecimento. Existem evidências de que o ambiente no início da vida em geral e a nutrição em particular podem induzir alterações de longo prazo na metilação do DNA, resultando em uma suscetibilidade alterada a uma variedade de doenças associadas ao envelhecimento. Filhos de mães que sofreram desnutrição na gestação são menos metilados.

A estabilidade genômica também depende de nutrientes como folato, B2, B6, B12, colina e betaína. A metilação do DNA mede o efeito cumulativo de um sistema de manutenção epigenética. Modificações ambientais podem alterar a metilação do DNA ao longo da vida. Exames genéticos mostram vulnerabilidades a serem corrigidas para maior longevidade e qualidade de processamento cerebral ao longo de toda a vida.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/