Dieta cetogênica e câncer de pulmão

Um relato de caso envolvendo um homem de 54 anos com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) e metástase cerebral demonstrou que uma dieta cetogênica (DC) iniciada após quimioterapia e radioterapia ajudou a estabilizar a progressão da doença. Ao longo de dois anos, as lesões cerebrais e pulmonares diminuíram de tamanho e não houve recidiva tumoral por dois anos após a interrupção da dieta [1].

Em um estudo com xenoenxertos de câncer de pulmão, uma dieta cetogênica combinada com radioterapia resultou em crescimento tumoral mais lento em comparação com a radiação isolada. A dieta aumentou o estresse oxidativo e diminuiu a proliferação tumoral, sugerindo respostas aprimoradas à radioquimioterapia [2].

Intervenções dietéticas, incluindo dietas cetogênicas, demonstraram ser promissoras em estudos pré-clínicos para reduzir a toxicidade da quimioterapia e melhorar a eficácia do tratamento. No entanto, os estudos clínicos são limitados e ensaios maiores são necessários para confirmar esses benefícios [3].

Em um modelo murino de câncer de pulmão, uma dieta cetogênica reduziu a captação miocárdica na imagem de [18F]FDG-PET, potencialmente melhorando a visualização de tumores pulmonares. No entanto, a dieta não alterou o metabolismo da glicose tumoral em comparação ao jejum [4].

De modo geral, a dieta cetogênica pode oferecer benefícios no manejo do câncer de pulmão, melhorando os desfechos clínicos, melhorando as respostas ao tratamento e potencialmente reduzindo a toxicidade do tratamento. No entanto, mais pesquisas clínicas são necessárias para compreender completamente seu impacto.

Referências:

1) AE Evangeliou et al. Restricted Ketogenic Diet Therapy for Primary Lung Cancer With Metastasis to the Brain: A Case Report. Cureus (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36059366/

2) BG Allen et al. Ketogenic diets enhance oxidative stress and radio-chemo-therapy responses in lung cancer xenografts. Clinical cancer research : an official journal of the American Association for Cancer Research (2013). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23743570/

3) BD Mercier et al. Dietary Interventions in Cancer Treatment and Response: A Comprehensive Review. Cancers (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36291933/

4) L Cussó et al. Effects of a Ketogenic Diet on [18F]FDG-PET Imaging in a Mouse Model of Lung Cancer. Molecular imaging and biology (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29968182/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Depressão e metabolismo de folato

Diversos estudos têm mostrado maior prevalência de alterações metabólicas em pessoas com depressão resistente: disfunções mitocondriais, alterações no metabolismo de carnitina, folato e metilação.

Dose de folato nos exames

Mas ter folato (vitamina B9) no sangue não é garantia de folato cerebral. No cérebro, a vitamina B9 é fundamental para síntese de neurotransmissores e metilação de DNA. A deficiência no sistema nervoso central pode ocorrer mesmo com níveis séricos normais ou altos (Pan et al., 2023).

Folato sérico vs. folato cerebral

O transporte de folato para o cérebro depende principalmente do transportador FRα (folate receptor alpha) na barreira hematoencefálica (mais especificamente nos plexos coroides).

O que pode ocorrer em alguns pacientes é o chamado “cerebral folate deficiency” (CFD), onde mesmo com níveis séricos adequados de folato, há redução no LCR. Isso pode estar associado a autoanticorpos contra FRα, defeitos genéticos ou competição por transporte.

Excesso de ácido fólico circulante pode atrapalhar o transporte?

O ácido fólico sintético (da dieta fortificada ou suplementos) não é a forma ativa: precisa ser convertido em 5-MTHF (L-metilfolato). Níveis muito altos de ácido fólico não metabolizado no sangue podem competir pelo transportador no plexo coroide. Isso, teoricamente, poderia saturar ou “entupir” o sistema de transporte para o SNC, dificultando a entrada da forma ativa. É a armadilha dos folatos (folate trap).

Esse mecanismo ainda é hipotético, mas alguns estudos sugerem que excesso de ácido fólico sintético pode ser menos eficiente para o cérebro do que suplementar diretamente L-metilfolato (que atravessa mais facilmente a barreira hematoencefálica).

Implicações clínicas

Em depressão resistente, alguns psiquiatras investigam níveis de folato no LCR, embora seja exame invasivo. Na prática, muitas vezes se tenta suplementação com L-metilfolato ou mesmo ácido folínico, justamente para contornar essas barreiras.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

O peso molecular influencia na absorção de nutrientes

Peso molecular é uma forma de medir o “tamanho” ou a massa de uma molécula. Como cada molécula é formada por átomos (oxigênio, carbono, hidrogênio, etc.), somamos as massas de todos os átomos que a compõem para saber o peso da molécula inteira.

Unidades usadas

1. Dalton (Da)

  • 1 Dalton é mais ou menos o peso de 1 próton ou 1 nêutron.

  • É uma unidade usada em bioquímica para falar de moléculas pequenas ou médias.

  • Ex.: glicose tem 180 Da → quer dizer que sua massa é 180 vezes o peso de 1 próton.

2. Gramas por mol (g/mol)

  • “Mol” é uma forma de contar quantas moléculas temos (como “dúzia” = 12, mas aqui um mol = ~6,022 × 10²³ moléculas).

  • Se uma molécula tem 180 g/mol, isso quer dizer:

    • Um mol (6,022×10²³ moléculas) pesa 180 g.

    • Logo, cada molécula individual pesa 180 Da (é a mesma medida, só em outra escala!). Ou seja, 180 g/mol = 180 Da

Em geral, usamos g/mol em laboratório (massa em gramas de muitas moléculas) e Da em biologia/nutrição (tamanho da molécula individual). Quanto menor o peso molecular, mais fácil tende a ser a absorção pelo trato gastrointestinal, porque a molécula passa com menos barreiras pelas membranas celulares. Já moléculas grandes e complexas precisam ser quebradas em unidades menores antes de serem absorvidas.

Exemplos

  • Água (H₂O): PM ~18 Da → molécula super pequena e de fácil absorção.

  • Glicose (açúcar do sangue): PM ~180 Da.

  • Vitamina C: PM ~176 Da.

  • Albumina (proteína do ovo): PM ~66.000 Da → molécula enorme. Assim como outras proteínas grandes depende de enzimas digestivas para quebrar até unidades menores absorvíveis.

  • DNA (moléculas genéticas): bilhões de Da → mega-molécula → muito grande para atravessar diretamente a barreira intestinal. Por isso, durante a digestão, o DNA dos alimentos ou de bactérias é quebrado por enzimas (DNases, nucleases, fosfatases) em fragmentos bem pequenos:

    • Nucleotídeos (ex.: adenosina monofosfato).

    • Nucleosídeos (base nitrogenada + açúcar).

    • Bases nitrogenadas isoladas (adenina, citosina, guanina, timina).

O intestino absorve principalmente nucleosídeos e bases livres, que podem ser reutilizados pelo corpo para fabricar o próprio DNA e RNA. Fragmentos grandes de DNA (vários pares de bases) quase não passam — a barreira intestinal impede. A microbiota intestinal produz DNA o tempo todo, mas esse material em geral não entra inteiro no organismo — serve mais como sinalização local (ativando receptores do sistema imune intestinal, como TLR9).

Em condições normais, entra pouquíssimo DNA intacto na circulação. O que chega ao sangue são bases e nucleosídeos reaproveitáveis, não DNA completo. Isso é importante, pois evita que DNA estranho circule no corpo (o que poderia ativar o sistema imune). fragmentos muito pequenos de DNA (oligonucleotídeos curtos) podem atravessar em quantidades mínimas, mas eles são rapidamente degradados no sangue. Em doenças intestinais com aumento de permeabilidade (“intestino permeável”), pode ocorrer passagem maior de fragmentos, o que pode influenciar imunidade e inflamação.

Insights-chave

  • <300 Da: geralmente fácil absorção (ex.: glicose, aminoácidos, vitaminas hidrossolúveis).

  • 300–600 Da: depende de solubilidade (ex.: carotenoides, vitamina E).

  • >1.000 Da: quase sempre precisam ser quebrados em moléculas menores antes da absorção (proteínas, polissacarídeos). Muitos fitoquímicos têm peso molecular alto e baixa solubilidade em água. A biodisponibilidade deles depende de quebra metabólica pela microbiota, gordura na dieta (no caso de substâncias lipofílicas), glicoconjugação (ligação a açúcares).

    • A vitamina B12 possui um peso molecular de 1.355 Da (bem maior que outras vitaminas hidrossolúveis). Tem uma estrutura molecular complexa com um núcleo corrinode (contém cobalto). Apesar do peso molecular alto, a B12 é uma excessão pois não é quebrada, usando um sistema de transporte altamente específico:

      • No estômago → B12 se liga à haptocorrina (glicoproteína salivar).

      • No duodeno → enzimas pancreáticas liberam B12 da haptocorrina.

      • No intestino delgado → B12 se liga ao fator intrínseco (FI) produzido pelas células parietais do estômago.

      • No íleo terminal → complexo B12+FI é absorvido por receptores específicos.

      • Transporte no sangue → ligada à transcobalamina II.

  • Minerais: não seguem essa lógica, pois são íons simples (absorção depende de solubilidade, competição e transportadores).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/