Vitamina D e doenças autoimunes

A vitamina D desempenha um papel crucial no funcionamento do sistema imunológico e tem sido amplamente estudada em relação às doenças autoimunes. Evidências científicas sugerem que a deficiência dessa vitamina pode estar associada a um maior risco e à progressão de várias doenças autoimunes.

🌿 Relação entre Vitamina D e Doenças Autoimunes

  1. A vitamina D modula a resposta imunológica, ajudando a equilibrar o sistema e evitar reações exageradas contra o próprio organismo. Atua na diferenciação e inibição de células imunológicas envolvidas na autoimunidade, como linfócitos Th1 e Th17.

  2. A vitamina D reduz a produção de citocinas inflamatórias, como IL-6 e TNF-α, que estão elevadas em diversas doenças autoimunes.

  3. A vitamina D contribui para a integridade da barreira intestinal, prevenindo o intestino permeável, um fator associado ao desenvolvimento de autoimunidade.

🔬 Doenças Autoimunes Ligadas à Vitamina D

Estudos sugerem que baixos níveis de vitamina D podem estar relacionados a:

  • Esclerose Múltipla 🧠 – Regiões com menor exposição solar apresentam maior incidência.

  • Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) 💜 – Pacientes frequentemente apresentam deficiência de vitamina D, o que pode agravar a inflamação.

  • Artrite Reumatoide 🤲 – Níveis adequados podem reduzir a progressão da doença.

  • Diabetes Tipo 1 🍬 – A vitamina D pode influenciar a resposta autoimune contra as células beta do pâncreas.

  • Doença de Hashimoto 🦋 – Estudos mostram que a suplementação pode ajudar a modular a resposta imune contra a tireoide.

  • Doença Inflamatória Intestinal (DII) 🏥 – Inclui Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa.

☀️ Fontes de Vitamina D e Suplementação

  • Exposição solar (15-30 min/dia, dependendo do tom de pele e horário).

  • Alimentos: Peixes gordurosos (salmão, sardinha), gema de ovo, fígado, cogumelos expostos ao sol.

  • Suplementação: Pode ser necessária em casos de deficiência, especialmente para pessoas com doenças autoimunes.

  • Avalie seus níveis de vitamina D (exame 25(OH)D) e PTH para individualização da dose a ser suplementada. A dosagem recomendada de vitamina D para doenças autoimunes varia com base na condição específica e fatores individuais do paciente. No entanto, vários estudos fornecem insights sobre dosagens eficazes.

Estudos e descobertas específicas

- Lúpus eritematoso sistêmico (LES): Um estudo randomizado controlado por placebo envolvendo 267 pacientes com LES descobriu que a suplementação com 2000 UI/dia de colecalciferol (vitamina D) por 12 meses melhorou significativamente os marcadores inflamatórios e hemostáticos e reduziu a atividade da doença em comparação ao placebo [1].

- Doenças autoimunes gerais: O estudo randomizado controlado VITAL, que incluiu 25.871 participantes, investigou os efeitos da vitamina D (2000 UI/dia) e ácidos graxos ômega-3 na incidência de doenças autoimunes. O estudo descobriu que a suplementação de vitamina D por cinco anos reduziu a incidência de doenças autoimunes em 22% [2]. Uma revisão sistemática e meta-análise indicou que, embora a vitamina D em geral não tenha influenciado significativamente o risco de doenças autoimunes (RR=0,99, IC 95%: 0,81-1,20), uma análise de subgrupo mostrou que uma dosagem de 600-800 UI/dia pode reduzir o risco (RR=0,55, IC 95%: 0,38-0,82) [3].

- Tireoidite de Hashimoto (TH): Um estudo prospectivo em 100 pacientes com TH e deficiência de vitamina D (vitamina D < 30 ng/mL) mostrou que a suplementação com 60.000 UI semanalmente por 8 semanas reduziu significativamente os níveis de anticorpos anti-peroxidase tireoidiana (anti-TPO) em 30,5% em comparação com 16,5% no grupo placebo [4]. Outro estudo envolvendo 82 pacientes com doenças autoimunes da tireoide (DAITs) e deficiência de vitamina D (<20 ng/mL) descobriu que a suplementação com 1000 UI/dia por um mês diminuiu significativamente os níveis de TPO-Ab e TgAb [5].

- Psoríase: Um estudo com 40 pacientes psoriáticos com deficiência de vitamina D que receberam 5000 UI/dia por três meses mostrou melhora significativa nas características clínicas e redução nos marcadores inflamatórios [6].

Essas descobertas sugerem que a suplementação de vitamina D pode ser benéfica no gerenciamento e na prevenção potencial de doenças autoimunes, com dosagens bastante variáveis, dependendo da condição específica e das necessidades do paciente. Marque sua consulta de nutrição online.

Referências:

1) A Abou-Raya et al. The effect of vitamin D supplementation on inflammatory and hemostatic markers and disease activity in patients with systemic lupus erythematosus: a randomized placebo-controlled trial. The Journal of rheumatology (2012). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23204220/

2) J Hahn et al. Vitamin D and marine omega 3 fatty acid supplementation and incident autoimmune disease: VITAL randomized controlled trial. BMJ (Clinical research ed.) (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35082139/

3) CE Low et al. Vitamin, antioxidant and micronutrient supplementation and the risk of developing incident autoimmune diseases: a systematic review and meta-analysis. Frontiers in immunology (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39717776/

4) B Bhakat et al. A Prospective Study to Evaluate the Possible Role of Cholecalciferol Supplementation on Autoimmunity in Hashimoto's Thyroiditis. The Journal of the Association of Physicians of India (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37116030/

5) Y Simsek et al. Effects of Vitamin D treatment on thyroid autoimmunity. Journal of research in medical sciences : the official journal of Isfahan University of Medical Sciences (2017). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28163731/

6) A Prtina et al. The Effect of Three-Month Vitamin D Supplementation on the Levels of Homocysteine Metabolism Markers and Inflammatory Cytokines in Sera of Psoriatic Patients. Biomolecules (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34944509/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Chumbo piora os sintomas de lúpus

A exposição ao chumbo foi estudada em relação a várias condições de saúde, incluindo lúpus eritematoso sistêmico (LES). As descobertas dos principais resultados fornecem insights sobre como a exposição ao chumbo pode influenciar o risco e a gravidade do lúpus.

Um estudo de caso-controle envolvendo 225 participantes (105 pacientes com LES e 120 controles saudáveis) descobriu que os níveis séricos de chumbo (Pb) eram significativamente menores em pacientes com LES em comparação com controles saudáveis ​​(p < 0,001) [1]. No entanto, os níveis de chumbo não foram associados à atividade da doença ou à resistência à insulina em pacientes com LES.

Outro estudo de caso-controle com 29 pacientes do sexo feminino com LES e 27 controles saudáveis ​​identificou que níveis de chumbo no sangue ≥ 0,075 mg/L estavam significativamente associados a um risco aumentado de LES (razão de chances [OR] 18,981, intervalo de confiança [IC] de 95% 1,228-293,364) [2]. Isso sugere que uma maior exposição ao chumbo pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de LES.

Uma revisão sistemática de estudos observacionais concluiu que há evidências suficientes para inferir uma relação causal entre a exposição ao chumbo e a hipertensão, que é uma comorbidade comum em pacientes com LES. No entanto, as evidências que ligam a exposição ao chumbo diretamente aos resultados cardiovasculares clínicos permanecem sugestivas, mas não conclusivas [3].

Um estudo piloto que explorou exposições ocupacionais encontrou associações significativas entre certos riscos ocupacionais e surtos de lúpus. Embora o chumbo não tenha sido especificamente destacado, o estudo ressalta a importância de fatores ambientais e ocupacionais nas exacerbações do LES [4].

Os pacientes devem tomar cuidado com suplementos de ervas. Alguns podem conter altos níveis de chumbo. A Erva de São João foi associada a um aumento de 23% nos níveis de chumbo no sangue entre mulheres. Outras ervas (incluindo kava, valeriana, black cohosh, pólen de abelha e urtiga) foram associadas a um aumento de 21% nos níveis de chumbo no sangue entre mulheres [5].

Ervas e suplementos recomendados

- Vitamina D: A suplementação de vitamina D e cálcio melhorou significativamente a densidade mineral óssea em pacientes com deficiência de vitamina D com lúpus eritematoso sistêmico (LES), mas não atenuou significativamente os marcadores imunológicos ou a atividade da doença [6].

- Deficiência e atividade da doença: Um estudo mostrou que a maioria dos pacientes com LES recém-diagnosticados tinha deficiência de vitamina D, que foi associada a maior atividade da doença. A triagem de rotina e o tratamento imediato da deficiência de vitamina D são recomendados [7].

- Coccinia Indica e Ginseng americano: Essas ervas mostraram a melhor evidência de eficácia de ensaios clínicos randomizados (RCTs) adequadamente projetados para controle glicêmico em diabetes, o que pode ser relevante para pacientes com LES com diabetes comórbido [8].

O artigo "Significance and impact of dietary factors on systemic lupus erythematosus pathogenesis" destaca várias estratégias dietéticas importantes para pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES):

  • Consumo adequado de fibras dietéticas: A ingestão adequada de fibras é recomendada devido aos efeitos benéficos na redução do risco cardiovascular, promoção da motilidade intestinal e redução dos níveis séricos de marcadores inflamatórios, como a proteína C reativa, citocinas e homocisteína.

  • Dieta de baixo índice glicêmico: Uma dieta com baixo índice glicêmico demonstrou evidências de redução de peso e melhora da fadiga em pacientes com LES.

  • Dieta baseada em vegetais: Pacientes que alteraram seus hábitos alimentares para incorporar mais alimentos de origem vegetal, limitando alimentos processados e produtos de origem animal, relataram melhorias nos sintomas do LES .

Acompanhe as estratégias do curso Dieta antiinflamatória.

Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta online.

Referências:

1) EM Pedro et al. Trace Elements Associated with Systemic Lupus Erythematosus and Insulin Resistance. Biological trace element research (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30600500/

2) RH Refai et al. Environmental risk factors of systemic lupus erythematosus: a case-control study. Scientific reports (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37353514/

3) A Navas-Acien et al. Lead exposure and cardiovascular disease--a systematic review. Environmental health perspectives (2007). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17431501/

4) ML Squance et al. Exploring lifetime occupational exposure and SLE flare: a patient-focussed pilot study. Lupus science & medicine (2014). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25379190/

5) C Buettner et al. Herbal supplement use and blood lead levels of United States adults. Journal of general internal medicine (2009). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19575271/

6) AG Al-Kushi et al. Effect of Vitamin D and Calcium Supplementation in Patients with Systemic Lupus Erythematosus. Saudi journal of medicine & medical sciences (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30787840/

7) ZS Bonakdar et al. Vitamin D deficiency and its association with disease activity in new cases of systemic lupus erythematosus. Lupus (2011). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21680639/

8) GY Yeh et al. Systematic review of herbs and dietary supplements for glycemic control in diabetes. Diabetes care (2003). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12663610/

9) NM Constantin et al. Significance and impact of dietary factors on systemic lupus erythematosus pathogenesis. Exp Ther Med. 2019 Feb;17(2):1085-1090. doi: 10.3892/etm.2018.6986.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

ERVAS QUE PODEM PIORAR SINTOMAS DE DOENÇAS AUTOIMUNES

A autoimunidade pode criar uma diversidade de respostas imunes. É importante levar isso em consideração caso você opte por tomar ervas, cogumelos medicinais ou qualquer outro botânico que influencia o sistema imune. Cada paciente é único.

A dominância TH1 ou TH2 se refere ao desequilíbrio na resposta imunológica de um paciente com doença autoimune. O sistema imunológico humano possui dois tipos principais de linfócitos T helper (TH), que coordenam diferentes respostas imunes:

  • TH1 → Responsável pela resposta imune celular, atacando vírus, bactérias intracelulares e células infectadas. Atua ativando macrófagos e aumentando a inflamação.

  • TH2 → Responsável pela resposta imune humoral, ligada à resposta tardia, com produção de anticorpos e ao combate a parasitas e alergias.

Em condições normais, esses dois sistemas estão equilibrados. Mas em doenças autoimunes, um dos dois pode estar hiperativo, levando ao agravamento dos sintomas.

Como saber se o paciente é TH1 ou TH2 dominante?

Algumas doenças autoimunes tendem a ser mais associadas a um perfil TH1 ou TH2:

Não existe um exame padrão para detectar essa dominância diretamente, mas alguns testes podem indiretamente indicar essa tendência, como:

  • Testes de citocinas (medindo IL-2, IFN-γ para TH1 e IL-4, IL-10 para TH2)

  • Testes genéticos que avaliam a predisposição para respostas TH1 ou TH2

  • Resposta a suplementos e ervas

O método mais prático é a auto-observação:

  1. Se o paciente piora com estimulantes de TH1 → Provavelmente já tem dominância TH1. Estes pacientes tendem a piorar com:

    🌿 Astragalus
    🌿 Equinácea
    🌿 Beta-glucanos (presentes em cogumelos medicinais)
    🌿 Alcaçuz (Licorice)
    🌿 Melissa officinalis (erva-cidreira)

  2. Se o paciente piora com estimulantes de TH2 → Provavelmente já tem dominância TH2. Estes pacientes tendem a piorar com:
    🍃 Extrato de chá verde
    🍃 Cafeína
    🍃 Extrato de semente de uva
    🍃 Resveratrol
    🍃 Picnogenol (extrato da casca do pinheiro marítimo)
    🍃 Casca de Salgueiro branco (white willow bark)

E se a pessoa não for claramente TH1 ou TH2?

Muitos pacientes têm um perfil misto, onde tanto TH1 quanto TH2 podem estar desregulados. Nesses casos:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/