Irisina e miostatina: efeitos na saúde

Exercina e miostatina são proteínas com papéis contrastantes no metabolismo e no controle do crescimento muscular. Vamos entender cada uma delas:

Exercina (Irisina)

Também conhecida como irisina, é um hormônio peptídico liberado principalmente pelos músculos esqueléticos durante o exercício físico. Sua descoberta foi publicada em 2012.

Funções da irisina

  1. Conversão de gordura branca em gordura marrom: A exercina estimula a transformação do tecido adiposo branco em tecido adiposo marrom, que é mais ativo metabolicamente e ajuda na queima de calorias.

  2. Regulação do metabolismo energético: Ajuda no controle do peso corporal e melhora a sensibilidade à insulina, contribuindo para a prevenção de doenças metabólicas como o diabetes tipo 2.

  3. Benefícios cardiovasculares e cognitivos: A exercina está associada à melhora da saúde do coração e ao estímulo de fatores que protegem o cérebro.

Miostatina

Proteína pertencente à família do fator de crescimento transformador beta (TGF-β). É expressa nos músculos esqueléticos e funciona como um inibidor do crescimento muscular.

Funções da miostatina

  1. Inibição do crescimento muscular: Regula negativamente a hipertrofia muscular, limitando o tamanho dos músculos. Isso é essencial para evitar o crescimento excessivo e desequilíbrios no organismo.

  2. Manutenção do equilíbrio muscular: Garante que o corpo não gaste recursos excessivos para sustentar musculatura desnecessária.

O que acontece com a ausência ou inibição da miostatina?

Animais e humanos com mutações genéticas que reduzem ou eliminam a ação da miostatina apresentam hipertrofia muscular extrema. Por exemplo, em experimentos com ratos e cães, a ausência de miostatina resultou em indivíduos com músculos muito mais desenvolvidos.

Bloqueadores de miostatina estão sendo investigados para tratar condições como distrofia muscular e obesidade sarcopênica. A obesidade sarcopênica é uma condição complexa caracterizada pela perda de massa muscular esquelética e aumento de gordura corporal, especialmente entre os idosos. Estão envolvidos mecanismos como resistência insulínica, inflamação crônica, alterações hormonais, disfunção mitocondrial, acúmulo de gordura intramuscular, redução da atividade física, com aumento de miostatina e redução de irisina.

Mecanismos da obesidade sarcopênica (Kim et al., 2023)

Relação entre Exercina e Miostatina

Complementaridade no exercício físico: A exercina promove o aumento de massa magra e a queima de gordura, enquanto a miostatina age como um "freio" no crescimento muscular. Durante o exercício regular, a produção de miostatina pode ser reduzida, criando um ambiente mais favorável para a hipertrofia muscular.

Implicações na saúde: Alterações nos níveis dessas proteínas podem influenciar tanto no desempenho atlético quanto na predisposição a doenças metabólicas e musculares.

Exercinas e memória

A exercina (irisina) tem sido amplamente estudada por seu papel benéfico no cérebro, especialmente na memória e na saúde cognitiva.

Ação no Hipocampo:

  • O hipocampo é uma região cerebral crucial para a memória e o aprendizado.

  • Estudos mostram que a exercina estimula a expressão de genes associados à neurogênese (formação de novos neurônios) no hipocampo, promovendo a plasticidade cerebral.

Estimulação do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF):

  • A exercina aumenta os níveis do BDNF, uma proteína essencial para a sobrevivência e o crescimento de neurônios.

  • O BDNF melhora a comunicação entre as células cerebrais (sinapses), essencial para consolidar memórias e facilitar o aprendizado.

Proteção Contra Doenças Neurodegenerativas:

  • Estudos sugerem que a exercina pode ajudar a proteger o cérebro contra condições como o Alzheimer e outras formas de demência, ao reduzir a inflamação e o acúmulo de placas beta-amiloides no cérebro.

Redução de Inflamação e Estresse Oxidativo:

  • A exercina tem propriedades anti-inflamatórias que podem proteger os neurônios de danos associados ao estresse crônico e à inflamação, fatores que prejudicam a memória. Pesquisas mostram que indivíduos que praticam exercícios regularmente apresentam melhores resultados em testes de memória. Níveis mais altos de exercina no sangue correlacionam-se com maior volume do hipocampo.

A atividade física regular pode ser recomendada como estratégia para melhorar a memória e prevenir doenças neurodegenerativas. Estratégias nutricionais também são importantes tanto para melhoria da composição corporal como para a boa memória.

A ingestão adequada de proteína, uso de suplementos como creatina, vitamina D, ômega-3, antioxidantes ajudam a melhorar a saúde geral. Marque aqui sua consulta de nutrição para individualização.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Interação entre as sirtuínas, PGC-1α e longevidade

Compreender como sirtuínas e PGC-1α regulam a saúde celular pode levar a novas abordagens terapêuticas para melhorar a longevidade humana. Algumas estratégias, como dietas restritas em calorias, exercícios físicos regulares e compostos naturais como o resveratrol (um ativador de SIRT1), têm mostrado potencial em aumentar a atividade das sirtuínas e do PGC-1α.

A interação entre as sirtuínas e o PGC-1α (coativador-1 alfa do receptor ativado pelo proliferador de peroxissoma gama) desempenha um papel crucial em diversos processos celulares, especialmente na regulação do metabolismo energético e na resposta ao estresse oxidativo.

O que são sirtuínas?

As sirtuínas são uma família de enzimas dependentes de NAD+ que atuam como desacetilases ou mono-ADP-ribosiltransferases. Elas estão envolvidas em:

  • Controle do metabolismo energético

  • Longevidade celular e do organismo

  • Regulação da inflamação e resposta ao estresse

O que é o PGC-1α?

PGC-1α (Coativador do receptor gama ativado por proliferadores de peroxissoma α) é um regulador mestre do metabolismo energético. Ele modula a biogênese mitocondrial, a oxidação de ácidos graxos e a termogênese. Sua atividade é essencial em tecidos metabolicamente ativos, como músculo esquelético, fígado e tecido adiposo marrom.

Relação entre sirtuínas e PGC-1α

  1. Ativação de PGC-1α pelas sirtuínas:

    • A SIRT1, uma das sirtuínas mais estudadas, desacetila o PGC-1α, ativando sua função.

    • Essa desacetilação promove a transcrição de genes envolvidos na biogênese mitocondrial e no aumento da capacidade oxidativa celular.

  2. Resposta ao estresse energético:

    • Quando os níveis de NAD+ aumentam (em situações de restrição calórica ou exercício), a atividade da SIRT1 é potencializada, levando à ativação do PGC-1α.

    • Isso melhora a eficiência metabólica, a produção de energia e a resistência ao estresse oxidativo.

  3. Regulação metabólica:

    • Sirtuínas e PGC-1α colaboram para ajustar o metabolismo às condições ambientais. Por exemplo:

      • Durante o jejum, há aumento da oxidação de ácidos graxos e da gliconeogênese hepática.

      • Em situações de frio, promovem a termogênese no tecido adiposo marrom.

    • O PGC-1α, por sua vez, pode ativar a SIRT1 e outras sirtuínas, criando um ciclo de retroalimentação que favorece a saúde celular, aumenta a resistência ao estresse e pode retardar o envelhecimento.

  4. Implicações para doenças e envelhecimento:

    • A interação SIRT1-PGC-1α pode proteger contra doenças metabólicas, como diabetes tipo 2 e obesidade.

    • Esses dois sistemas também se conectam com outros mecanismos envolvidos no envelhecimento, como a senescência celular, a inflamação e a regeneração de tecidos.

Modulação dessa interação:

  • Fatores que aumentam a atividade:

    • Resveratrol: Um polifenol que ativa indiretamente a SIRT1.

    • Restrição calórica e jejum intermitente.

    • Exercício físico.

  • Fatores que prejudicam a interação:

    • Dietas ricas em gorduras e açúcar.

    • Sedentarismo.

    • Envelhecimento natural (redução de NAD+).

Essa via é um alvo de interesse para terapias que buscam melhorar a saúde metabólica e promover a longevidade.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

A Eficácia da Melatonina e de seus Agonistas no Tratamento da Insônia

A insônia é um problema de saúde global que afeta milhões de pessoas, prejudicando a qualidade de vida e aumentando o risco de diversas condições médicas.

Um estudo abrangente analisou a eficácia da melatonina e de seus agonistas no manejo desse distúrbio do sono. Estudar o sono não é fácil. Cada pessoa secreta quantidades de melatonina diferentes e em momentos distintos.

Principais Descobertas do estudo

  • Melatonina Natural: Demonstrou benefícios modestos em melhorar a latência do sono (tempo para adormecer) e a qualidade geral do sono em pacientes com insônia, especialmente em pessoas idosas e com ritmos circadianos alterados. Um grau de incerteza assola as evidências existentes. Problemas dos estudos:

    • Há uma heterogeneidade considerável entre as revisões. As populações estudadas variaram de insônia primária a comórbida, até mesmo pacientes de unidade de terapia intensiva e com deficiência intelectual.

    • As faixas etárias incluídas em cada revisão variaram acentuadamente, com algumas restritas a adultos ou idosos, enquanto outras não tinham restrição de idade.

    • A determinação dos parâmetros do sono difere entre os estudos. Algumas revisões utilizaram meios subjetivos de medição (relato do paciente/família), enquanto outras usaram meios objetivos (polissonografia), e algumas revisões foram escassas sobre como os parâmetros foram medidos.

    • O momento e quantidade de melatonina administrada difere nos estudos.

  • Agonistas da Melatonina: Medicamentos que imitam a ação da melatonina, como o ramelteon e o tasimelteon são mais eficazes em casos específicos, como insônia crônica e transtornos de sono relacionados ao ritmo circadiano. Embora tenham um mecanismo semelhante à melatonina natural, os agonistas oferecem um efeito mais consistente e duradouro devido à sua formulação e farmacocinética otimizadas.

Ambos os tratamentos apresentaram um bom perfil de segurança, com efeitos colaterais leves, como sonolência diurna e tontura. Contudo, a personalização do tratamento, considerando idade, tipo de insônia e condições associadas, é fundamental para obter os melhores resultados (Low, Choo, & Tan, 2020).

Apesar da melatonina aparentar não ser tão eficaz quanto a medicação, ela têm vários outros benefícios como regulação do ritmo circadiano em indivíduos com jet lag, potencial terapêutico antiinflamatório nos casos de ansiedade, depressão e transtorno bipolar, redução do estresse oxidativo, adjuvante em terapias oncológicas e modulação da imunidade (Minich et al., 2022).

É importante ressaltar que a insônia pode ser causada ou agravada por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Esses fatores afetam a capacidade de iniciar ou manter o sono e podem variar entre indivíduos. Abaixo estão os principais contribuintes:

Fatores Biológicos

  • Alterações no Ritmo Circadiano: Desajustes no "relógio biológico" devido a trabalho noturno, jet lag ou exposição inadequada à luz natural.

  • Condições Médicas: Dor crônica, refluxo gastroesofágico, apneia do sono, e condições como depressão e ansiedade.

  • Alterações Hormonais: Menopausa, gravidez e envelhecimento podem interferir na qualidade do sono.

  • Má nutrição: Lembre que a alimentação é fundamental, já que para a produção de melatonina não podem faltar nutrientes. Pacientes com estado nutricional comprometido geralmente apresentam mais cansaço, alterações de humor ou dificuldade de sono:

2. Fatores Psicológicos

  • Estresse e Ansiedade: Pensamentos intrusivos ou preocupações excessivas dificultam o relaxamento necessário para dormir.

  • Transtornos Mentais: Depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e outros distúrbios psicológicos estão fortemente associados à insônia.

3. Fatores Ambientais e de Estilo de Vida

  • Uso Excessivo de Dispositivos Eletrônicos: Exposição à luz azul de telas antes de dormir pode inibir a produção de melatonina.

  • Maus Hábitos de Sono: Irregularidade nos horários de dormir, cochilos prolongados ou consumo de cafeína e álcool à noite.

  • Barulho e Iluminação: Ambientes inadequados, como locais ruidosos ou mal escurecidos, dificultam o sono profundo.

4. Fatores Comportamentais

  • Condicionamento Negativo: Associar a cama com atividades como assistir TV ou trabalhar pode dificultar o relaxamento ao deitar.

  • Preocupação com o Sono: A ansiedade por não conseguir dormir pode gerar um ciclo vicioso de insônia.

5. Uso de Medicamentos e Substâncias

  • Estimulantes: Cafeína, nicotina e certos medicamentos (como antidepressivos e descongestionantes) interferem no sono.

  • Interrupção de Medicamentos: Suspender abruptamente remédios ou substâncias sedativas pode causar insônia de rebote.

O tratamento da insônia requer a identificação dos fatores subjacentes para abordar adequadamente suas causas e promover uma rotina de sono saudável. No caso de necessidade de medicação, consulte um médico de confiança.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/