Existem alimentos proibidos durante a amamentação?

Muitas mulheres restringem alimentos durante o período de aleitamento, incluindo café, alimentos gelados, alimentos crus, alimentos condimentados (Jeong et al., 2017), laticínios… Mas o que faz sentido e o que não faz? Existem muitos mitos envolvendo a amamentação. Por exemplo, o de que a mulher não poderia comer alho. Porém, um estudo com 153 mães mostrou que não há diferença em termos de cólicas entre as mães que consomem e as mães que não consomem alho diariamente. Em outro experimento, as mães consumiram suplementos de alho e ainda assim não houve diferenças em termos de cólicas e irritabilidade entre os bebês destas mulheres e os das mulheres que receberam um placebo (Mennella JA & Beauchamp GK, 1993).

Uma das dúvidas comuns é em relação a cafeína. Será que irá agitar o bebê? Estudos mostram que com a ingestão típica, as quantidades de cafeína no leite não são suficientes para afetar o bebê. Alguns especialistas acham que um limite de ingestão materna de 300 mg por dia (cerca de 2 a 3 xícaras de café) pode ser um nível seguro de ingestão. No entanto, recém-nascidos pré-termo e mais jovens metabolizam a cafeína muito lentamente o que prejudicaria o sono e causaria irritabilidade. Mães que tomam chá preto, erva-mate, chá verde, refrigerantes a base de cola e bebidas com cacau também devem estar atentas às alterações de comportamento dos bebês. A cafeína também pode gerar tremores, contrações musculares e menor ganho de peso.

O chocolate contém cacau, fonte de cafeína e também teobromina. As duas substâncias podem irritar o bebê. Embora a baixa ingestão de chocolate (especialmente se tiver pouco leite e açúcar) não seja problemática, quantidades grandes (a partir de 250g) podem afetar o bebê, gerando irritabilidade, nervosismo, choro incontrolável, sucção excessiva e dificuldades para dormir.

Algumas mulheres percebem também que ao consumirem alimentos potencialmente alergênicos, contendo leite de vaca (leite, queijo, iogurte, pão de queijo, requeijão etc) o bebê chora mais. Outras mães relatam o mesmo com o consumo de clara de ovos, castanhas, amendoim. Mas isso é bastante individual. Se for necessária a exclusão de qualquer grupo alimentar é importante que um nutricionista seja consultado para que a mulher e o bebê não desenvolvam carências nutricionais.

Bebês com deficiência de glicose-6-Fosfato desidrogenase (G6PD). A deficiência de G6PD é um defeito genético ligado ao cromossomo X. É mais comum em pessoas negras e pode resultar em destruição das hemácias (células vermelhas do sangue, que carregam oxigênio). Para evitar o problema é necessário o fortalecimento da imunidade para controle de infecções, evitar medicamentos que desencadeiam o problema e alimentos como as favas. As mesmas contém os compostos vicina e convicina que são metabolizados em divicina e isouramil, potentes agentes oxidantes. Muitos casos de hemólise e subsequente palidez e icterícia foram relatados em crianças amamentadas após a ingestão de fava pela mãe (alimento mais comum nos países banhados pelo mediterrâneo e do oriente médio).

Mães que tiveram envenenamento pelo consumo de alimentos exóticos também podem passar as toxinas para o bebê pelo leite materno. É o caso de alguns cogumelos tóxicos e carne de tartaruga marinha contaminada. Contudo, a passagem de toxinas de origem alimentar para o leite materno é pouco documentada e mais dados clínicos publicados sobre esses eventos raros seriam bem-vindos (Anderson, 2018).

Em relação ao álcool existem vários problemas. Mães que bebem não devem compartilhar a cama com seus bebês, pois seus reflexos naturais serão afetados. A mãe também pode entrar em sono profundo e virar-se sobre o bebê. Mas a verdade é que o consumo não costuma ser indicado. O álcool em excesso pode causar no bebê sonolência, sono profundo (não acorda para mamar e fica fraco, não ganha peso). Há também possibilidade de diminuição do reflexo de ejeção do leite na mãe.

O álcool é transferido prontamente para o leite humano em baixa quantidade, mas em função do nível de álcool no sangue materno. Alguns estudos sugeriram atraso psicomotor em bebês de mulheres que bebem 2 ou mais doses de álcool ao dia. Por isso, se beber ocasionalmente, evite amamentar durante e por 2-3 horas após o consumo de álcool. Mulheres que bebem ainda mais devem esperar mais. O alcoolismo é uma situação que contra-indica a amamentação.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/