Lidando com desapontamentos

Uma adolescente me escreveu. Está se sentindo desapontada com colegas da escola, que considerava amigos e que agora a chamam de gorda, de feia, a criticam pela aparência, por não estar mais com o corpo considerado adequado para eles, com o corpo imposto pela sociedade, pela mídia.

Ela não deixou claro e nem entrou em detalhes sobre os motivos que a fizeram engordar. Só falou de seu desespero, de seu sentimento de rejeição, de seu desapontamento. Sou nutricionista, poderia passar muito tempo aqui escrevendo dicas sobre como emagrecer, sobre o quê escolher, sobre a importância da atividade física. Mas não sei muito sobre a adolescente, sequer se está mesmo muito acima do peso ou não, Então hoje quero mesmo falar sobre a forma como lidando com os desapontamentos.

Se sentir desapontado com os outros é muito ruim. Mistura emoções como dor, tristeza e raiva. O primeiro passo para superar é entender o que está sentindo e deixar as emoções aparecerem. Sou contra fingirmos que está tudo bem. Sou contra passar o tempo todo tentando agradar os demais. Devemos sim cuidar das pessoas que amamos, mas não precisamos agradar a todo mundo. Afinal, é impossível.

Na situação dela é mais que natural se sentir desapontada, triste, frustrada... São sentimentos normais e precisamos de tempo para superar tais emoções. Por outro lado não podemos nos deixar consumir pelo passado ou pelo futuro. O que foi feito foi feito. Eles já falaram o que não deviam, já fizeram o que não deviam. E agora? ignorar? Parar de falar com eles? Bom, esta é uma decisão que não cabe à mim, estas pessoas pareciam especiais. Então por quê fizeram o que fizeram? Às vezes as pessoas não sabem que estão nos magoando, ou ainda são imaturas para enxergar determinadas situações. Talvez estejam estressados ou não conheçam seus valores, talvez não tivessem achado que isto pudesse mesmo causar uma cicatriz. Talvez nem acreditem mesmo em tudo o que disseram. Mas e se acreditarem?

Não importa! Nosso valor não está no número de nosso manequim, no tamanho das nossas calças. É difícil para uma adolescente enxergar isso. Mas o fato, é que há uma vida toda pela frente. Uma vida toda de muitas realizações. Uma vida toda de sonhos que podem ser realizados. Como? Acreditando no seu valor. E até acreditando no valor das pessoas que te magoaram. Afinal, somos todos igualmente incríveis. Mas também somos todos igualmente imperfeitos. 

O que mais ela pode fazer? Culpar os outros. A mãe, que compra muitas guloseimas, os colegas que não a enxergam como ela é, o mundo fútil em que vivemos. É muito fácil culpar algo externo  quando nos sentimos desapontados. Pode aliviar nossa dor. Mas não resolve as causas da nossa dor. Nos desapontamos pois queremos ser reconhecidos, admirados, amados. Temos outras opções neste caso. Podemos fugir, nos esconder, nos retrair, cortar relações. Mas isso também não nos faz crescer. Enfrentaremos outras situações assim por toda a vida. Situações em que nos sentiremos inadequados, excluídos de um grupo. Acontece na escola, mas também acontece no trabalho, na academia, no clube, na praia, em qualquer lugar. E, de vez em quando também excluímos os demais. Percebendo ou não.

Tá, então já que não devemos fugir nem ignorar, o quê fazer? Algumas estratégias podem contribuir para nosso bem estar em momentos difíceis. Meditar, viver o momento, visualizar coisas positivas podem ajudar a mantermos um pé no presente, a nos afastar do rancor e de pensamentos automáticos, que não nos ajudam. Exemplos de pensamentos automáticos que precisamos vigiar, pois não fazem sentido:

- Generalização: "ninguém gosta de mim". Você sabe que isso não é verdade. Se alguém não falou com você hoje na escola, no trabalho ou na rua, isto não diz nada sobre você. A pessoa pode estar distraída, cansada, estressada, pode não ter te visto.

- Abstração seletiva: se você só selecionar o que é negativo, se sentirá cada vez pior. "Minha mãe me pediu para arrumar o quarto, então ela também acha que sou desajeitada, nojenta, que faço tudo errado." Poxa, não exagere! Assim como os demais, você tem mil qualidades. Seu quarto é quem está precisando de uma arrumação e não você!

- Tudo ou nada: cuidado para não pensar em preto e branco. O mundo é feito de muitas cores. Nem toda situação é certa ou errada, existem alternativas no meio disso. Pensamentos deste tipo incluem: "Se eu não fizer tudo com perfeição, nunca serei valorizado". "Se eu não emagrecer, nunca serei amada". "Se eu não ficar linda no vestido, não irei à festa pois ninguém falará comigo". 

- Personalização: não assuma responsabilidade sobre coisas que não tem a ver com você. "Ele está de péssimo humor hoje, mas não sei o que fiz." Provavelmente não fez nada, nem tudo tem a ver com você. Passar o tempo todo buscando a aprovação dos outros é uma estratégia muito ruim, que não leva a nada. Não dá para fazer todo mundo feliz o tempo todo. E a culpa não é sua! Seja você mesmo, divirta-se com as coisas que gosta e, com certeza, encontrará sua turma.

- Racionalização emocional:  não confunda sentimentos com fatos. "Me sinto feia, devo ser feia" ou "me sinto sem motivação, sou uma pessoa desmotivada" etc. Para construir seus sonhos, tenha paciência. Muitas pessoas podem te criticar e você pode não estar se sentindo bem hoje, mas isto não tem nada a ver com seu potencial, nem dita o que você pode fazer e ser amanhã. Supere-se!

- Leitura de mentes: adoramos fazer isso, mas é impossível. Esta é uma receita para se desapontar cada vez mais. Fuja dela e de pensamentos como "Sei que ele estava me olhando pois me acha feia, gorda, chata, boba, etc..."

- Previsão do futuro é outra coisa que não conseguimos fazer. Não tente antecipar resultados. Pensamentos como "A professora estava chateada, então vai nos ferrar na prova" dificilmente são verdadeiros. Ou "com certeza ele terminará comigo" ou "eu nunca conseguirei mudar/ ele, ela nunca conseguirá mudar.

- Não julgue. Você não tem controle sobre as ações e sentimentos dos outros. Quanto mais pensar: "ele deveria ser legal", "ela deveria ser gentil" mais se desapontará... Sua felicidade não pode depender do que os outros fazem ou dizem. 

Tá, e se as coisas não estão só na sua cabeça? E se as pessoas realmente não te valorizarem, te passarem para trás, te traírem, te ridicularizarem. Não importa. E sabe por quê? Porque ninguém te conhece como você, ninguém consegue ler seu coração como você. Se esta outra pessoa não está contribuindo para seu crescimento, se não te valoriza nunca ou se não gosta de você (nem todos gostarão) ainda assim está tudo bem. Você se fortalecerá.

Aliás, mesmo que todas as pessoas te elogiem o tempo todo você pode se sentir vazia. Busque no fundo da alma os seus valores. Se ainda não souber quais são, faça da sua vida uma busca constante por sentido. Só esta busca já é maravilhosa. Te dará energia para melhorar, para virar a pessoa maravilhosa que quer ser, independentemente dos comentários positivos ou negativos dos demais. Difícil? Concordo que sim. Então repita "Sou independente dos comentários bons ou ruins dos outros". Repita isso diariamente por 90 dias. Reprograme seu subconsciente, mesmo sem acreditar. Se fizer verá uma mudança em você. E não se preocupe. Você não virará uma pessoa fria, que não liga para a opinião de ninguém. Mas te ajudará a suportar os desafios da vida. E até selecionar melhor as pessoas que realmente importam. Te ajudará a se respeitará mais e aos outros também.

E desejo um domingo especial para esta menina linda, que parou para escrever para mim, abrindo seu coração. 

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/