Correr ou não correr em jejum?

Meu artigo publicado na revista contra-relogio em 01 de novembro de 2013:

Você deve conhecer corredores que fazem um café da manhã rico em carboidratos e seguem para o treino. E também aqueles que não gostam de mastigar nada antes do treino e substituem o pão por um shake de proteína. E ainda pode ser que alguns de seus colegas de corrida não comam de manhã, pois acordam sem fome ou, se comem, sentem-se pesados e desconfortáveis para correr. Fora estes, também se lembrará daqueles que correm em jejum na tentativa de emagrecer.
Mas o que acontece com nosso corpo quando corremos em jejum? Nosso cérebro é altamente dependente de glicose (vinda dos carboidratos). Se corremos em jejum, a hipoglicemia (queda dos níveis de açúcar no sangue abaixo de 60 mg/dl) leva à utilização das reservas de glicogênio e também musculares. Esta adaptação costuma ser bastante eficiente em situação de repouso e exercícios leves, porém nem sempre ocorre de forma adequada durante o exercício mais intenso, levando a dores de cabeça, mal-estar ou mesmo desmaios. Estes sintomas são bastante individuais e existem, sim, pessoas que se adaptam muito bem a exercícios em jejum. O importante é procurar entender como seu corpo funciona.

Beneficios? Tirando o bem-estar que alguns podem sentir ao correr mais leves, não parece existir outros benefícios da corrida em jejum. Veja o caso da estética e do emagrecimento: é verdade que quando o exercício é realizado em uma intensidade mais baixa, o jejum pode ser benefico para estimular a queima de gordura e o emagrecimento. Porém, esta prática leva, a longo prazo, a uma desaceleração do metabolismo. Ou seja, depois de algum tempo repetindo treinos em jejum, vai ficando cada vez mais difícil emagrecer. Além disso, o uso da musculatura pode levar à flacidez, ao aumento do risco de lesões e maior grau de intolerância à glicose, nos indivíduos propensos a tal alteração nas quantidades de açúcar no sangue.
Uma sensação editorial recente nos Estados Unidos é o livro "The Fast Diet", que defende a tese de que podemos perder peso comendo normalmente cinco dias por semana e diminuindo bastante a quantidade de alimentos nos outros dois. Seguindo esta orientação e considerando que a maioria das pessoas não corre todos os dias, tente então diminuir o consumo de alimentos justamente nos dias em que não correrá. Mas atenção: não reduza tanto as proteínas para não perder massa magra junto com a gordura corporal. Se precisar reduzir o consumo de proteínas, é recomendável a suplementação com cápsulas de aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA).
E mais um motivo para não correr em jejum: a prática pode contribuir para o aumento dos níveis de ácido úrico. Isso acontece porque uma das formas de se produzir ácido úrico é aumentar a degradação da Adenosina Tri Fosfato (ATP), a forma como nossas células usam a energia dos alimentos. Sem comer, mais ATP é degradado e mais ácido úrico é produzido, aumentando o risco de inflamações articulares e da doença gota.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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