Alimentação e transmissão do HIV

O HIV e a alimentação estão ligados de duas formas. Primeiramente a doença causa o emagrecimento e muda os requerimentos de energia, macro e micronutrientes dos indivíduos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que indivíduos portadores do vírus consumam 10% a mais em energia e que os indivíduos acometidos por infecções oportunistas aumentem o valor calórico das refeições em 20 a 30% afim de evitar a perda de peso.

A segunda forma como o HIV e a nutrição estão ligados é a insegurança alimentar (falta de alimentos em quantidade e/ou qualidade suficientes). A insegurança alimentar causada principalmente pela baixa renda aumenta os comportamentos de risco fazendo com que a transmissão do vírus seja maior. Estudos observacionais têm demonstrado uma relação entre comunidades que sofrem de segurança alimentar e uma maior transmissão do vírus. A pobreza e o baixo grau de escolaridade colocam a saúde em risco já que comportamentos de risco, como o não uso da camisinha, estão mais presentes.

Artigo publicado no PLoS Med discute a relação entre insegurança alimentar e transmissão do vírus HIV. Na pesquisa o cientista Sheri Weiser coletou dados em cinco distritos de Botswana e quatro distritos de Swaziland, na África. No total 2051 adultos foram entrevistados sobre suas condições sócio-econômicas e sobre a adequação de suas dietas nos últimos 12 meses. Estes dados foram correlacionados com comportamentos de risco para a infecção pelo HIV, como uso da camisinha, quantidade de parceiros, troca ou pagamento de sexo por dinheiro, comida ou outros recursos. Os resultados foram alarmantes uma vez que mostraram que 32% das mulheres e 22% dos homens experimentaram algum grau de fome nos últimos 12 meses.

A insuficiência de alimentos esteve relacionada com comportamentos de risco para a infecção por HIV, principalmente em mulheres. Para os formuladores de políticas públicas esta pesquisa mostra a obrigação de considerar o alívio da fome como um componente dos programas de prevenção e controle da AIDS. Em populações atingidas pela pobreza o incentivo a redução de comportamentos de risco deve ser uma razão a mais para que sejam feitos investimentos que possam contribuir para a redução da fome - que é o primeiro objetivo da declaração do milênio, aprovada pelas nações unidas em 2000. Como a redução da insegurança alimentar, especialmente no contexto da AIDS, é complexa, outras pesquisas fazem-se necessárias. Esta relação precisa ser investigada em outros países, inclusive no Brasil, através de metodologias que possam quantificar influências ambientais como a produção e o acesso ao alimentos na disseminação do HIV. Acabar com a fome obviamente não elimina o problema da AIDS, porém ignorar a falta de alimentos as quais muitas pessoas são submetidas definitivamente não contribui para a prevenção da doença.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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